"A mensagem que estou extraindo de tudo isso é que pra muita gente a
esquerda é o showbiz. Mas um showbiz com a peculiaridade de ser
inquestionável, porque arrota certa legitimidade. Ao mesmo tempo em que
questionam o sistema representativo, esses figurões moldam um cenário de
privilegiados intelectuais com aparente empatia pelos oprimidos e se
entitulam a nova esquerda. Ou seja, fundam um novo e nebuloso sistema
representativo, que tem as redes sociais como mídia, mas que, como
toda mídia, continua estabelecendo certos critérios para dar
visibilidade a este ou aquele discurso. Esta mídia tem seus eleitos, não
se enganem. E eles não são muito diferentes dos eleitos das mídias
corporativas, porque precisam dominar certas linguagens, instrumentos e
precisam saber se projetar. Ou seja, a lógica é elitista. Eu não posso
acreditar que essa gente queira mais transformação social do que alguém
que sofre certas coisas na pele. Quem tem que protagonizar os seus
processos de transformação social são os que sofrem as tantas
modalidades de opressão: as mulheres, os negros, os trabalhadores, os
indígenas. Chega de messias. Eu não sei de onde vem a empatia de alguns
que nunca pisaram certos ambientes onde as opressões acontecem. De onde
brota? Semideuses não podem mais passar. Sêmen-deuses não passarão."
Maria Gabriela Saldanha