11 janeiro 2015

Quem ri por último?

2015 estourou feito tiro de AK-47 - e seus estilhaços ricochetearam a partir do 11º arrondissement parisiense, na manhã de 7 de janeiro, quando três terroristas abriram fogo contra a redação do Charlie Hebdo. Entre 11 feridos e 12 mortos - incluindo Stéphane Charbonnier (o Charb, diretor do semanário satírico desde 2009), Georges Wolinski (“o” Wolinski), Jean Cabut (Cabu) e Bernard Velhac (Tignous) -, manifestações de solidariedade marcaram as páginas internacionais nos últimos dias. Além de vigílias Paris afora, tributos proliferaram internet adentro: primeiro, je suis Charlie, em homenagem aos cartunistas assassinados; no paralelo, not in my name, vindo de jovens muçulmanos, criticando as motivações dos autores do atentado - que teriam ligações com a Al-Qaeda no Iêmen. 

Difícil dizer quem riu por último. Lembrada como uma revista provocativa, satírica, “subversiva”, anticlerical e às vezes antirreligiosa, Charlie Hebdo ironicamente foi quase “sacralizada” como símbolo da liberdade de imprensa. Ironicamente, a última charge rabiscada por Charb trazia um jihadista e a provocação: “França segue sem atentados. Atenção, esperemos até o fim de janeiro para desejar feliz ano-novo”. Ironicamente, Ahmed Merabet, o policial executado por terroristas na Rue Nicolas Appert, era muçulmano, detalhe que evocou nas mídias digitais as palavras atribuídas a Voltaire: “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la”. Ironicamente, saiu pela culatra a tentativa de silenciar um semanário polêmico, que se tornou alvo da fúria religiosa por publicar charges de Maomé: dos 60 mil habituais, a próxima edição saltou para 1 milhão de exemplares, graças a uma vaquinha milionária feita por Le Monde, Radio France, The Guardian, entre outros. Ironicamente, no dia 7 era lançado Soumission, controverso romance do escritor francês Michel Houellebecq, que retrata uma França transformada num Estado islâmico após a vitória de um novo partido em 2022 - muitos críticos consideraram o livro islamofóbico. 
Entre tantas ironias, Michael Löwy destaca outra: o atentado contra um semanário de esquerda (lembrado por traços satíricos, mas progressistas, libertários e democráticos, herdeiros da esquerda francesa, hostis a extremismos) “instrumentalizado” a ponto de favorecer a extrema direita, acirrando ainda mais campanhas discriminatórias e islamofóbicas. “São dois males. Por um lado, um crime contra a liberdade de imprensa, de fundo fundamentalista religioso. Por outro, uma ultradireita a manipulá-lo. Muito foi dito a respeito do atentado, mas acredito que o importante a destacar é que se trata de uma revista de esquerda, num contexto de direitização europeia muito forte”, critica. 
Diretor do Centre d’Études Interdisciplinaires des Faits Religieux (CEIFR) na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) e diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), o sociólogo franco-brasileiro conversou com o Aliás na quinta-feira. Instalado no 13º arrondissement, Löwy lamentou profundamente as mortes. O intelectual lia episodicamente o semanário, mas não raro encontrava suas caricaturas reimpressas noutras publicações, folheando livros e folhetins trotskistas - e conhecia pessoalmente Charb, que ilustrou o livro Marx, Manual de Instruções (Boitempo, 2013), de seu amigo Daniel Bensaïd, com quem assinou Marxismo, Modernidade e Utopia (2000). 
Autor ainda de Walter Benjamin: Aviso de Incêndio (2005) e Lucien Goldmann ou a Dialética da Totalidade (2009), Löwy considera o momento perigoso, polarizado por extremos, ideológicos e religiosos: “É uma armadilha”. Sua impressão pessoal: “Um clima de tristeza profunda e de indignação”. Sua palavra final? “Infâmia”. 
Prof. Löwy, pela primeira vez um atentado à redação de Charlie Hebdo foi levado às últimas consequências, provocando 12 mortes. Como interpretar o que aconteceu? 
Neste momento, só uma palavra me vem à mente para descrever o que aconteceu: infâmia. Foi um crime odioso, contra a liberdade artística, a liberdade de imprensa, a liberdade de pensamento. Para mim foi tanto mais odioso, pois as vítimas eram artistas e jornalistas conhecidos na esquerda francesa, extremamente antirracistas, antifascistas, anticolonialistas. Minha última lembrança, que agora me volta à memória, é a recente participação desses cartunistas num álbum em homenagem aos argelinos anticolonialistas assassinados pela polícia francesa na década de 1960 (no dia 17 de outubro de 1961, uma manifestação pacífica se tornou palco de um massacre brutal de mais de 200 argelinos na capital francesa). Por isso, considero especialmente “infame” e revoltante que eles tenham se tornado alvo desse atentado, que levou a intolerância religiosa às últimas consequências, absurda e irracionalmente. O crime é absurdo, mas é igualmente absurdo atribuir a responsabilidade a milhões de muçulmanos, que vivem sua religião pacífica e tranquilamente. É uma armadilha - e precisamos lutar para que o mundo não caia nela. Se o presente nos indigna, o futuro nos preocupa.

A mídia internacional focou a questão a partir de duas perspectivas principais: a liberdade de expressão e o fundamentalismo religioso. Muito se lembrou o caráter satírico de Charlie Hebdo, famoso por críticas a diversas religiões - não só a islâmica. Entretanto, eu queria abordar o caráter político da revista. O que marcava a linha da publicação?
Era um periódico muito lido, principalmente por jovens. É um paradoxo, uma ironia essa agressão acontecer justamente contra personalidades reconhecidamente da esquerda francesa, contrárias ao conservadorismo clerical, ao imperialismo, ao fascismo, ao neocolonialismo. Aliás, o último número da revista trazia uma caricatura do escritor Michel Houellebecq, que lançou um livro por muitos considerado islamofóbico. Noutra página, interna, diversas caricaturas contra a religião católica. Enfim, não era algo contra o islamismo. Eles eram anticlericais, ateístas e às vezes antirreligiosos. Conheci pessoalmente alguns desses artistas. Charb, por exemplo, ilustrou um livro de Daniel Bensaïd sobre Marx. Sim, Charb tinha proximidade com a esquerda francesa radical. Agora, a esquerda também foi muito presente, mobilizando diversas manifestações (Marine Le Pen não foi convidada para a marcha in memoriam marcada para este domingo). 
O atentado não favorece o discurso de ódio da extrema direita, que era tão criticada pela revista?
Sim, mas é preciso considerar o momento francês, em que uma onda islamofóbica está amalgamando os muçulmanos, misturando os muçulmanos pacíficos e os fanáticos integristas (uma minoria) e os jihadistas (uma minoria ainda menor). Nesse amálgama, “os” muçulmanos todos se tornam acusados da autoria de crimes cometidos por terroristas. É uma campanha antimuçulmana e extremamente racista, com alta repercussão na mídia, com impulso de certos intelectuais, jornalistas e políticos - a Frente Nacional de Marine Le Pen é o maior exemplo. Isso tem estimulado atitudes xenófobas, atitudes negativas contra imigrantes africanos, asiáticos, islâmicos, enfim, os “não europeus”. Quer dizer, vale para alguns europeus: há seculos na Europa, os ciganos também são alvo de discriminação. Manifestações islamofóbicas também marcaram os últimos tempos, com atividades politicamente racistas. No fim, o atentado ao Charlie Hebdo favorece a campanha dessa ala fascista. O crime está sendo instrumentalizado para tal. São duas catástrofes. Por um lado, um crime contra a liberdade de imprensa, de fundo fundamentalista religioso. Por outro, uma ultradireita a manipulá-lo. Muito foi dito a respeito do atentado, mas acredito que o importante a destacar é que se trata de uma revista de esquerda, num contexto de direitização europeia muito forte. 
Diversas vozes lamentaram que a liberdade de expressão, um dos valores máximos da civilização ocidental, foi ferida ‘barbaramente’. Volta o discurso d'O Choque de Civilizações, tão martelado após o 11 de Setembro?
Justamente. Há quem se interesse por defender a tese do “choque de civilizações” (do teórico americano Samuel P. Huntington, para quem, pós-Guerra Fria, a cultura, as identidades culturais e religiosas seriam o principal gatilho para conflitos no mundo contemporâneo - e não a política ou a economia). Dois polos tentam promover a ideia do choque. Por um lado, radicais e fundamentalistas do Oriente. Por outro, conservadores e reacionários do Ocidente. Os dois têm interesse em acirrar uma guerra de “civilizações”, não só porque corresponde à sua ideologia fascista, mas porque o ódio entre etnias e religiões é o terreno que lhes permite se desenvolver. Há uma espécie de cumplicidade entre eles, o reforço de um conduz ao reforço do outro, numa espiral infernal de intolerância e guerra. Só uma aliança internacionalista de todas as cores, etnias e religiões contra um inimigo comum - o sistema capitalista - pode neutralizar esse processo monstruoso. É importante que as forças progressistas, libertárias e democráticas se oponham a isso, lembrando que o grande confronto de nosso tempo não é entre Islã e Ocidente. O real conflito de nossa época é entre progresso e reação, exploradores e explorados, capital e trabalho. 
Religiões têm tabus, às vezes muito fortes. Não respeitar esses tabus pode enfurecer quem neles insiste. Respeitar pode conflitar com outros valores, como a liberdade de expressão. Como navegar entre essas pressões contraditórias?
Realmente é uma contradição muito complicada, muito complexa. Em última análise, acredito que a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão devam ser considerados princípios fundamentais. Entretanto, há formas de expressão que realmente resvalam na incitação ao ódio e deve haver leis contra elas. Na França, há. Quer dizer, é crime estimular o ódio contra um grupo religioso ou étnico ou o que seja. Não era o que fazia Charlie Hebdo - uma coisa é incitar o ódio contra religiões, outra coisa é ironizá-las satiricamente. Além disso, as religiões são diferentes. Dentro do judaísmo, do islamismo, do cristianismo há correntes regressivas, reacionárias e intolerantes, que inclusive culminam em crimes. Mas há, sim, correntes progressistas e democráticas - em certos casos, mesmo revolucionárias. 
Salman Rushdie, também ameaçado pelos islamitas, disse: ‘As religiões, como todas as outras ideias, merecem críticas, sátiras e, sim, nossa falta de respeito e de medo’.

 Concorda com o autor d'Os Versos Satânicos?
A sátira faz parte da natureza de uma imprensa livre, irreverente, independente. E isso deve valer para qualquer tema. Qualquer um deve poder ser satirizado - o rei, a presidente, o profeta. Charlie Hebdo é herdeiro de uma velha tradição da esquerda francesa anticlerical, antirreligiosa, ateísta. Pessoalmente, confesso que eu não me inquieto nesse combate às religiões. Talvez por minha experiência como brasileiro, vejo a religião com olhos um pouco diferentes dos franceses. De qualquer maneira, é preciso dizer: não é essa a questão.

link:aqui

BARBÁRIE GLOBALIZADA


Uma tentativa de entender o fenómeno do "Estado Islâmico".
 
 
Mais uma. Mais uma vez, o presidente dos Estados Unidos mobiliza a coligação dos dispostos a entrar em campo contra “o mal" (Spiegel Online). Desta vez é o grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) que deve ser derrotado numa campanha de três anos, em cuja sua primeira fase a Força Aérea dos EUA vai estender os ataques aéreos à Síria. Ao mesmo tempo, a Casa Branca exige ao Congresso a bagatela de 500 milhões de dólares, a fim de "treinar e armar rebeldes sírios moderados", como informou a Reuters.
 
Esta abordagem faz lembrar uma fase anterior da guerra civil síria, quando os serviços secretos ocidentais, em comunhão íntima com com os despotismos fundamentalistas do golfo, como a Arábia Saudita, apoiaram a oposição síria, apoio a partir do qual surgiu o Estado Islâmico, além de uma variedade de outras milícias islamistas. E naturalmente que dentro do movimento de oposição síria dominam justamente facções fundamentalistas que estão em concorrência com o Estado Islâmico e lutam contra ele.
 
Um dos principais grupos rebeldes sírios, por exemplo, é a aliança fundamentalista Frente Islâmica, cujo líder Hassan Abboud foi morto recentemente num atentado supostamente realizado pelo EI. A Frente Islâmica representa o maior contingente dentro dos rebeldes sírios – e tem contactos estreitos com o grupo jihadista al-Nusra.
 
É esta mesma filial síria da Al-Qaeda, o Jabhat al-Nusra, que vem tentando, depois de uma pesada derrota contra o EI, distanciar-se do Estado Islâmico através da libertação de reféns norte-americanos. Consequentemente, esses rebeldes "moderados" de futuro vão completar a sua formação militar no território da democracia de referência que é a Arábia Saudita.
 
Falando claramente: O Ocidente está mais uma vez em vias de armar islamistas para combater islamistas – e, ao mesmo tempo, prosseguir os seus interesses geopolíticos, que no caso da Síria visam o derrube do regime de Assad. Coloca-se apenas a questão de saber que grupo jihadista, que agora ainda faz parte da "oposição moderada", ficará mais uma vez fora de controlo dentro de alguns anos e terá de ser eliminado por meio duma intervenção militar. O Ocidente, na sua luta de moinhos de vento contra o fundamentalismo islâmico, é como o célebre aprendiz de feiticeiro, que já não se consegue livrar dos espíritos por ele convocados para fins de instrumentalização nesta região abalada pela falência estatal.
 
Não é só a geopolítica do Ocidente que dá força aos jihadistas. Países ocidentais também servem como um importante campo de recrutamento para o EI. Cerca de 3.000 jihadistas da Europa Ocidental, EUA, Canadá e Austrália combatem nas fileiras do Estado Islâmico segundo a imprensa americana. Dos cerca de 31.500 combatentes que se terão juntado a esta estrutura terrorista, cerca de um terço terá sido recrutado no exterior – principalmente por meio de uma campanha de recrutamento sofisticada.
 
Um bombista suicida do EI aprisionado nas regiões autónomas curdas da Síria relatou perante representantes dos média um fluxo constante de turistas jihadistas de todo o mundo que desejam juntar-se aos grupos de combate deste exército terrorista:
 
"Há nacionalidades de todo o mundo. Entre eles há muitos britânicos. Vêm de países asiáticos, da Europa e da América. Vêm para aqui de toda a parte."
 
O EI, portanto, representa uma espécie de subproduto da globalização capitalista em crise. Não se trata aqui de uma insurgência nativa, tradicionalista e surgida das associações de clãs e "tribos" regionais, mas de um exército de ocupação, globalizado ao mais alto grau, que se constituíu nas regiões em colapso sócio-económico e político da Mesopotâmia. Portanto, o Estado Islâmico massacra não só os "infiéis", mas também os sunitas que se atrevem a opor-se ao domínio estrangeiro. Quase 700 membros de uma associação de clãs sunita no leste da Síria foram literalmente abatidos pelo EI em meados de Agosto, depois de os seus líderes tribais terem recusado fidelidade aos jihadistas.
 
Mas qual é a natureza do "domínio estrangeiro" que – pelo menos em sua liderança – a tropa jihadista, em grande parte recém-chegada, procura construir nesta região em colapso? O que se materializou na Mesopotâmia na forma do EI, é uma caricatura furiosa, um negativo da forma mais eficiente de organização gerada pelo capitalismo tardio: as grandes empresas transnacionais. O Estado Islâmico é uma altamente eficiente "máquina de fazer dinheiro" (Bloomberg), que conseguiu produzir um "fluxo de entradas de caixa" permanente pela receita de contrabando de petróleo e de outros ramos de negócio do crime organizado. "O Estado Islâmico é, provavelmente, o grupo terrorista mais rico que já conheci", disse um analista americano à Bloomberg.
 
Esta empresa terrorista, que publica regularmente "Relatórios e Contas", tem uma estrutura de comando interno altamente eficiente e uma máquina militar muito eficaz, dispõe de um departamento de relações públicas profissional, que se dedica com muito sucesso a recrutar novos membros – e pratica o Lean Management dos territórios conquistados, cuja administração é deixada aos dignitários locais, desde que jurem fidelidade e prestem vassalagem ao “Califado”. As ramificações internacionais desta "máquina de fazer dinheiro" jihadista não se limitam à sua estrutura de associação, o financiamento inicial do EI foi realizado com o apoio financeiro internacional dos patrocinadores ricos dos Estados do Golfo.
 
A principal diferença entre a grande empresa global e o Estado Islâmico é que a acumulação de capital é o fim em si mesmo de todas as actividades das grandes empresas transnacionais. E todas as devastações e destruições que o capitalismo tardio faz às pessoas e ao meio ambiente são apenas subprodutos da busca cega e sem limites da valorização do capital, em que consiste afinal o núcleo irracional do modo de produção capitalista. Para o Estado Islâmico, no entanto, a acumulação de capital representa apenas um meio para outro fim irracional, que consiste num trabalho de destruição e aniquilação o mais eficiente possível. Não é senão isso que apresentam os "Relatórios e Contas" do EI, que são listagens das operações terroristas de sucesso desta "empresa". Portanto, a tendência implícita para a auto-destruição inerente ao capitalismo no caso do EI vem abertamente à luz do dia, é tornada explícita.
 
Assim, o Estado Islâmico usa as formas mais eficazes e os métodos de organização mais racionais, produzidos pelo capitalismo tardio atormentado pela crise, para buscar um objetivo louco e alucinado: a aniquilação literal de todos os infiéis. Aqui já se torna claro um paralelo com o até agora maior colapso da civilização da história mundial, o trabalho de aniquilação do nacional-socialismo alemão. Também os nazis fizeram uso das formas e métodos de organização então mais modernos para criar como que uma fábrica fordista de morte em Auschwitz, cujo "produto", produzido como numa linha de montagem, era o fumo de corpos humanos queimados que subia dos crematórios. Assim como os nazis, em delírio racista, construíram uma eficiente fábrica negativa de destruição humana, para "limpar" o mundo de judeus, ciganos, sub-humanos eslavos ou bolcheviques, também o EI se constitui sob a forma de organização de uma grande empresa negativa, para prosseguir o seu objetivo louco de um Califado mundial religiosamente puro. A racionalidade instrumental e a racionalidade economicista do capitalismo ocidental, que é continuamente melhorada com o propósito de uma acumulação mais eficiente de capital, viram assim em barbárie nua e crua nas mãos do EI.
 
Na grande empresa terrorista estabelecida pelo Estado Islâmico reflecte-se, assim, a irracionalidade em crise da socialização capitalista. Entretanto parecem estar a chegar os primeiros franchisings ao mercado do terror globalizado, tentando copiar a receita de sucesso dos massacres do EI. Está em curso uma segunda onda de globalização da barbárie jihadista. A "crescente popularidade" do EI no Sudeste Asiático poderia arrastar consigo ameaças de segurança a longo prazo, alertou a AlJazira em meados de Julho. Na verdade, o grupo terrorista das Filipinas Abu Sayyaf entrou recentemente para o Estado Islâmico. Os jihadistas da África Ocidental de Boko Haram, que segundo a Neewsweek controlam um "território do tamanho da Irlanda", também tentam imitar o procedimento do EI com a declaração do seu "Califado" africano.
 
Pelo que concorrem os grupos terroristas no mercado global do terror? Além das contribuições financeiras dos patrocinadores ricos dos despotismos da Península Arábica, é sobretudo pela mercadoria que o capitalismo tardio deita fora como supérflua: seres humanos. Muitos dos ataques e acções espetaculares do EI – como por exemplo a recente ocupação da barragem perto de Mosul – visavam precisamente um efeito propagandístico, com o qual se pretende acelerar o recrutamento de novo material humano. Com sucesso, como mostra um estudo nos EUA. Assim, em particular os talibãs afegãos, que estão sob enorme pressão militar, sofreram um êxodo amargo de combatentes estrangeiros que agora rompem em direcção à Síria e ao Iraque para se juntarem aos jihadistas locais:
 
"Lutadores do Uzbequistão, da China e da Chechénia têm poucas chances de voltar aos seus países de origem, mas sabem que são bem-vindos na Síria e no Iraque, onde Jabhat al-Nusra e o Estado Islâmico lutam contra o presidente sírio Assad, um contra o outro, e no caso do Estado Islâmico, contra os curdos, os iraquianos e até contra o Irão".
 
É a admissão do fracasso completo da brutal "guerra contra o terror" ocidental, que acabou por ser realizada utilizando métodos terroristas. Após cerca de 13 anos, surgiu uma camada global de dezenas de milhares de guerreiros religiosos sem pátria, cuja pátria é a "Guerra Santa". Em contraste com a rede global da Al-Qaeda, esta nova geração de jihadistas está tentando conquistar e manter territórios nas áreas em colapso do mercado mundial, para realizar os seus delírios de um Califado global.
 
O Estado Islâmico, a nadar em dinheiro, pode recorrer à multidão de jovens economicamente "supérfluos" que na periferia do sistema capitalista mundial – e, cada vez mais, nos centros – levam uma vida marginal e miserável. Um soldo de poucas centenas de dólares por mês e a esperança de um paraíso no Além são suficientes em muitos casos para motivar essa gente sem perspectivas, que vegeta no inferno de Estados e sociedades falidos, para se juntarem às fileiras do EI.
 
Mas o que levou milhares de muçulmanos do Ocidente a juntarem-se às redes terroristas jihadistas? Um estudo do Instituto de Defesa da Constituição, analisou os currículos de cerca de 400 islamistas que se deslocaram da Alemanha para a "Guerra Santa", chega à conclusão de que os muçulmanos que se juntaram aos jihadistas eram em grande parte marginalizados. Apenas 12 por cento destes guerreiros religiosos tinham um emprego regular, a esmagadora maioria dos quais no sector de baixos salários. Apenas seis por cento tinham terminado um curso profissional e dois por cento uma licenciatura. Cerca de um terço desses islamistas já antes tinha entrado em conflito com a lei, principalmente em conexão com a pequena criminalidade típica de gueto. Na sua maioria os que deixaram o país eram membros da camada mais baixa, que levavam uma vida em condições precárias nas margens da legalidade nos guetos informais de estrangeiros na RFA – até cairem no meio salafista. É significativo que apenas em 23 por cento dos casos os pais desses guerreiros religiosos eram praticantes de um Islão fundamentalista. Um bom exemplo de uma carreira, da pequena criminalidade de miúdo de gueto a guerreiro religioso, é o caso do rapper Denis Cuspert, que entretanto terá ascendido ao círculo restrito da liderança do EI.
 
Assim não são de modo nenhum os muçulmanos agarrados à tradição que se juntam à guerra terrorista, como disse também Tarfa Baghajati, presidente da Iniciativa dos Austríacos/as Muçulmanos/as, em entrevista à Rádio Free Europe. Há uma série de factores a que se deve o sucesso do recrutamento do EI na Europa, diz Baghajati:
 
"De destacar, em primeiro lugar, que os jovens que se juntam a estes grupos não tinham anteriormente laços fortes com o Islão nem com outros muçulmanos. Nunca tinham visitado mesquitas e alguns deles nem sequer sabiam rezar. É por isso que a sua experiência religiosa tem uma carga emocional muito forte... O segundo factor é que esses jovens não se vêem como parte da sociedade ocidental. Eles não foram capazes se envolver positivamente nela. Além disso há também a discriminação e indirectamente a perseguição contra o Islão e contra os muçulmanos, subsumidas no conceito de islamofobia".
 
Os muçulmanos recrutados pelo EI nos países do Ocidente não se vêem como parte dessas sociedades, porque não o são, porque eles são excluídos pela sociedade do trabalho capitalista em crise através da marginalização económica e do racismo crescente. O aumento do racismo e da extrema-direita causados pela crise por toda a Europa, que se manifesta nos sucessos eleitorais da AfD alemã, do UKIP britânico ou da Frente Nacional francesa, de facto visa em última análise a exclusão económica dos grupos que não são considerados parte da "comunidade nacional" ("empregos primeiro para quem é alemão"). A extrema-direita, que promove a exclusão de determinados grupos da população, representa, portanto, uma arma ideológica na luta da concorrência em crescimento devido à crise. Sem surpresa, portanto, a nível europeu o EI conseguiu recrutar o maior contingente de combatentes em França, o país dos banlieues e da Frente Nacional atormentado pela crise.
 
A viragem para o extremismo islâmico entre os muçulmanos europeus representa, assim, um desenvolvimento paralelo ao aumento provocado pela crise da extrema-direita na Europa. Jihadismo militante e terrorista é, em última análise, uma modificação religiosamente dissimulada da extrema-direita, uma espécie de fascismo clerical pós-moderno e globalizado. Enquanto no Ocidente a identidade nacional serve de terreno fértil para o crescimento das ideologias fascistas e de extrema-direita, no círculo cultural árabe a religião funciona como esse mesmo terreno que produz fantasias de aniquilamento. A categoria da raça, que incendiou a fúria destrutiva fascista na Europa, foi substituída pela categoria dos "infiéis" no jihadismo clerical-fascista.
 
Tanto o islamismo como a extrema-direita europeia representam, além disso, um extremismo do “centro”, que leva ao extremo de uma visão do mundo fechada as ideias e opiniões ideológicas dominantes na sociedade. No caso do Islão é a religião que ocupa uma posição hegemónica no "centro" das sociedades árabes; no caso da extrema-direita, o que é levado ao extremo é a identidade nacional, há muito transmutada na ideia da localização do investimento económico. Ambas as ideologias também podem ser descritas como pós-modernas, porque representam um escape ideal da crise e do fracasso da modernidade capitalista.
 
O "extremismo do centro" islamista em última instância também pode ser visto como uma variação do fascismo clerical. O fascismo – seja o nacional-socialismo alemão, o fascismo católico de Franco em Espanha, ou a ditadura fascista de Pinochet no Chile – representa uma forma de crise da dominação capitalista abertamente terrorista. As tendências de extrema-direita e fascistas ganham sempre impulso quando a sociedade capitalista burguesa-liberal entra numa crise económica ou política que ameaça a continuação de todo o sistema, ou até mesmo se apenas parece ameaçar (a crise económica mundial em 1929, a vitória da Frente Popular em 1936 na Espanha ou a vitória eleitoral de Allende em 1970 no Chile).
 
Seja nas grandes cidades da Europa ou nas regiões em colapso da Mesopotâmia – o processo de constituição da extrema-direita, tanto racista como clerical, desenvolve-se em trajectórias muito semelhantes. Em reacção aos choques da crise, à dissolução da ordem social existente, começa muitas vezes uma produção reforçada de identidade nas sociedades em causa. Se tudo se dissolve e entra em desordem, os indivíduos predispostos à autoridade procuram um apoio – e só o conseguem encontrar na identidade, no que aparentam ser: alemão, francês, sunita, xiita. O medo do futuro e as rupturas incompreendidas levam à saudade de anteriores estados da sociedade idilicamente imaginados; seja o Estado-nação racialmente puro ou o Califado medieval.
 
A grande auto-ilusão nesta devoção à política de identidade, é claro, está em que essas identidades já são constituídas apenas em interação com a sociedade capitalista em crise e, portanto, são apenas expressão identitária do processo de crise do capitalismo tardio. O que é comumente entendido por "identidade alemã", na Alemanha S.A. contemporânea, tem muito pouco a ver com a Alemanha do princípio do Império e muito menos com a da Assembleia de Paulskirche [1848/1849, N.T.]. O mesmo se aplica ao Islão, que muitas vezes era muito mais tolerante, especialmente no início da Idade Média, do que gostariam de admitir os actuais combatentes religiosos e os construtores pós-modernos do Califado. Basta lembrar aqui, a título de exemplo, que os judeus da Espanha, especialmente na fase inicial do domínio dos mouros (de 711 até à queda do Califado de Córdoba em 1031) gozavam de ampla liberdade religiosa e segurança jurídica; só foram expulsos pelos Reis Católicos após a reconquista definitiva en 1492.
 
A presente viragem induzida pela crise para a identidade nacional ou religiosa, que é vista alucinadamente como um continuum histórico e imutável, está quase sempre associada com a personalidade autoritariamente estruturada das pessoas em causa. O islamista pós-moderno submete-se à interpretação rígida do Alcorão de modo tão cego como os partidos de direita pós-modernos aplicam as sagradas leis do mercado e do culto do capital (na forma de uma nação reduzida à localização do investimento económico). Em ambos os casos, a submissão leva ao ódio a todos aqueles que parecem não aplicar isto do mesmo modo (infiéis, "parasitas sociais", desempregados etc).
 
Da consonância que caracteriza tanto o facismo europeu como o islâmico, de submissão e de ódio, resulta que esta submissão é comprada com a renúncia à pulsão. Os portadores destas ideologias sofrem secretamente, sob as diretrizes e mandamentos aberrantes ditados pelo serviço do fetiche, no Corão e no capital, situação em que a personalidade autoritariamente estruturada exclui uma rebelião contra as fontes do sofrimento. É por isso que a raiva assim reprimida é dirigida contra inimigos externos imaginários. Também é inerente a ambas as ideologias uma ilusão de pureza típica da fixação anal, que no caso da extrema-direita se aplica à defesa contra os "parasitas" da pureza do povo, da nação, ou da localização do investimento económico, enquanto no islamismo é distorcida pela mania da preservação do culto religioso.
 
As disposições autoritárias que impulsionam a extrema-direita, tanto árabe como europeia, são adquiridas logo na primeira infância na família patriarcal ou de classe média, designada pelo psicanalista Wilhelm Reich. no seu estudo Psicologia de massas do fascismo, publicado em 1933, como a "célula embrionária do Estado autoritário". O Estado e a igreja continuam a estruturação autoritária do indivíduo iniciada na familia patriarcal-autoritária. Central aqui é a repressão sexual, como diz Reich:
 
"A estruturação autoritária do ser humano... é feita centralmente pela ancoragem de inibição sexual e de medo perante o material vivo das pulsões sexuais. Ou seja... a sexualidade é excluída das trajetórias naturalmente dadas de satisfação pelo processo de repressão sexual, assim trilhando caminhos de satisfação substitutiva de vários tipos. Por exemplo, a agressão natural aumenta para o sadismo brutal".
 
Estas observações, tendo em vista o nacional-socialismo alemão, também se aplicam, obviamente, à realidade da vida de muitas pessoas nos países árabes em crise. Não é só no tratamento brutal das mulheres “raptadas” por combatentes do Estado Islâmico que se expressa o "sadismo brutal" constituído pela repressão sexual, também os brutais ataques contra as mulheres durante o levantamento no Egipto foram alimentados por essa frustração sexual.
 
Em parte, o aumento nas últimas décadas da pressão para o uso do véu em muitas sociedades islâmicas pode ser atribuído à interação da dinâmica de crise económica e da islamização relacionada com a crise. O Islão proíbe estritamente o sexo antes do casamento, mas simultaneamente a crise da sociedade do trabalho capitalista produz no mundo árabe um exército de jovens economicamente supérfluos, que simplesmente não podem pagar a fundação de uma família. A repressão sexual ideologicamente compelida pelo islamismo, portanto, perante o agravamento da crise resulta no ódio exuberante às mulheres, cuja visão o islamista apenas consegue suportar, sem ser dominado por sua pulsão sexual degenerada em mero sadismo, sob o véu de rosto inteiro.
 
O banimento das mulheres do espaço público visado pelo islamismo, no entanto, é impulsionado principalmente por um outro factor, que resulta do falhanço da modernização capitalista desta região periférica do mercado mundial. A imposição histórica do capitalismo foi acompanhada pela "dissociação" de todos os domínios da reprodução social que não podem ser absorvidos no processo de valorização do capital, como a lida da casa e o trabalho com a família, que foram então atribuídos à esfera do "feminino". O trabalho com a família e doméstico é até hoje considerado sem valor, uma vez que não cria valor, não é directamente parte do processo de valorização do capital. A esfera do trabalho criador de valor, pelo contrário, foi até bem dentro do século XIX determinada como exclusivamente masculina; o homem "duro" e actuando racionalmente teve de afirmar-se como ganha-pão no mercado, enquanto à mulher era atribuída a esfera do privado, do sensual-irracional e do cuidar e tratar. Esta cisão entre a esfera pública masculina do trabalho criador de valor (assim como da política, da arte e da ciência) e a esfera privada feminina do trabalho "sem valor" constituíu a base da discriminação das mulheres nos países capitalistas, que apenas na primeira metade do século XX conseguiria ser superada, pelo menos formalmente (o sufrágio feminino).
 
Na família patriarcal medieval – que em mais de 90 por cento era de facto uma família de camponeses – também havia uma divisão de trabalho entre marido e mulher, mas as suas actividades estavam de igual modo viradas para a satisfação directa das necessidades e não para a acumulação de capital. As categorias de valor e trabalho abstracto pura e simplesmente não existiam, pelo que as actividades femininas também não tinham de ser menorizadas. A demonização da mulher, do feminino sensual, começou na Europa apenas no início da era moderna, na esteira do colapso da ordem social feudal medieval e do surgimento dos primeiros começos da economia capitalista; só esta trouxe consigo a dissociação, monstruosa e incompreendida para as pessoas daquele tempo, da esfera do privado feminino relativamente ao regime emergente da valorização do capital. A demonização das mulheres expressou-se na caça às bruxas, que dominou com mão de ferro a Europa e a América do Norte do século XVI ao século XVIII e de que foram vítimas dezenas de milhares de mulheres e meninas. Central em quase todos os processos, que na maioria corriam em tribunais seculares, era a acusação de que as supostas bruxas teriam praticado relações sexuais com o diabo, ou com os demónios, a fim de ganharem os seus "poderes sobrenaturais". E foi justamente a alucinada aplicação destas forças demoníacas femininas que foi culpada pelo caos em que se encontravam as sociedades proto-modernas em vias de transformação sistémica.
 
Não há acusação que coloque hoje em maior perigo de vida uma mulher no Afeganistão, na Líbia ou na Arábia Saudita do que a de relações sexuais extraconjugais. A transformação sistémica para o capitalismo e para o mercado mundial, que levou séculos sangrentos a completar na Europa, desabou na periferia com a intensidade de um desastre natural, completou-se em muito menos tempo (algumas décadas), com a concomitante dissociação dos domínios da vida conotados com o feminino e sem acesso à valorização do capital – e teve consequentemente uma pressão ideológica para a legitimidade muito mais elevada, presssão perante a qual as estruturas patriarcais tradicionais tiveram de ser postas em concordância com as "novas" formas capitalistas de socialização.
 
A grande diferença histórica entre a Europa e a Arábia é que a modernização capitalista falhou entre o Hindu Kush e as Montanhas do Atlas. Nestes países atingidos pela crise, que muitas vezes já estão afectados pelo dsmoronamento do Estado, já não se vai estabelecer qualquer sociedade capitalista do trabalho funcional, capaz de promover a secularização dessas sociedades. O fracasso da modernização e a dinâmica de crise que com ele se espalha levam assim a um endurecimento da ideologia de crise islamista e do autêntico tabu do feminino: Como se a ocultação total e o banimento total da mulher da vida pública permitissem aos homens, apesar da crise global do capital, continuarem a operar como sujeitos autocráticos do mercado.
 
No presente bárbaro da ideologia e da prática islamistas, o ocidente liberal capitalista encontra, portanto, os ecos do seu passado sangrento. Mais ainda: o núcleo bárbaro de socialização capitalista vem à tona no islamismo extremista tal como na extrema-direita. Reflectida nos horrores do Estado Islâmico, a comunidade ocidental do valor vê-se ao espelho. Nada poderia ser mais equivocado do que acreditar piamente no "choque de civilizações" proclamado por ambos os lados extremistas. A cultura ocidental não é o pólo positivo oposto à loucura jihadista. Na actual crise sistémica, tanto a extrema-direita como o islamismo são destilados pelos centros ocidentais liberais do sistema capitalista mundial.
 
Obviamente, como exposto no início, no plano geopolítico o apoio político, financeiro e militar ao jihadismo desde os anos 80 do século XX – quando os fundamentalistas islamistas entraram na Guerra Santa contra o comunismo ateu no Afeganistão, com o apoio do Ocidente – faz parte da geopolítica do Ocidente. Um certo Osama Bin Laden pôde fazer a sua primeira experiência militar sob tutela da CIA no Afeganistão. A Arábia Saudita, o regime fundamentalista mais brutal do mundo, é um aliado próximo do Ocidente, armado ao mais alto nível com fornecimentos de armas de milhares de milhões de dólares.
 
Mas é sobretudo a crise económica que emana dos centros e devasta a periferia que em primeiro lugar cria as hostes de jovens economicamente supérfluos que, na falta de perspectivas, estão prontos a juntar-se ao culto da morte dos jihadistas. A sobrevivência árdua no inferno das economias em colapso do Iraque, da Síria ou do Afeganistão é tão insuportável que eles estão dispostos a trocá-la pela perspectiva ilusória de um paraíso no outro mundo.
 
Finalmente, os reflexos ideológicos e identitários deste processo de crise são muito semelhantes tanto no Ocidente como no Oriente. Há um retorno autoritário à identidade religiosa ou nacional, que impulsiona até um extremo ideológico as ideias nacionais ou religiosas existentes e leva a uma mobilização militante contra inimigos externos ou dissidentes internos. O islamismo é assim – tal como a extrema-direita – um produto da crise mundial do capital.

 Tomasz Konicz
link: aqui
 

06 janeiro 2015

Discurso fora de ordem .
Moda feita em casa 1.
Crer ou não crer eis a questão.
Moda não é futilidade e "uma imagem vale mais do que mil palavras".
Sem uma boa consultoria de imagem nada funciona ...
As imagens ao lado traduzem o discurso de uma mulher simples, romântica, inocente, afetiva, delicada e o look total sendo confeccionado do fazer manual (renda) constrói o elo entre o mito fragilizado e o povo. Na conjunção de uma aproximação quase que familiar no resgate da raiz da tal cultura brasileira.
Mas, vale lembrar que somos uma nação jovem e Dilma não é a rainha Elisabeth nem na idade nem no carisma. Por outro lado, a escolha da cor de nude não favorece a sua pele deixando a presidenta ainda mais apática e camuflada diante da nação.
O seu decote encurtou o seu pescoço como uma metáfora de uma navalha delicada ou uma lâmina de forca. Asim como a escolha da silhueta "A"e a quantidade de volume concentrado na parte superior numa tentativa de alongar o seu corpo foi em vão e a presidenta ficou ainda mais redonda.
Faltaram nas suas escolhas visuais um leve toque de tecnologia e sofisticação,pois não se trata de uma cerimônia de casamento, mas com a abertura para o mercado chinês e o enfraquecimento da indústria criativa da moda o jeito é apelar a renda chinesa.
O visagismo tenta passar uma mulher soberana e otimista, mas passa muitas dúvidas e inseguranças do futuro ainda turvo. As suas sobrancelhas articulam dentro da zona T potencializando um traço de maldade e seus lábios parecem que foram sonorizados, pois a testa dá a crer na falta de sincronicidade entre a fala os pensamentos, contudo na busca da conquista da tal credibilidade qualquer palavra de ordem e progresso valem para segurar uma nação em chamas de petróleo.
Capítulo a parte as roupas dos ministros tão empoeiradas! Socorro!! Na esperança do : 'Brasil, pátria educadora' a flor de lótus foi a esposa de T(r)emer.


Jo S. Souza - Facebook