"[...]
Nosso problema tem sido rotular algo como estupro, assédio sexual,
pornografia diante da suspeita de que talvez seja uma relação sexual
consensual, talvez seja uma investida
sexual comum, talvez seja erótico. Para dizermos que essas coisas
supostamente sexuais nos violam, para sermos contra elas, dizemos que
elas não são sexuais. Mas a tentativa de sermos objetivas e neutras
impede que assumamos o fato de que as mulheres têm um ponto de vista
específico sobre estes eventos. Impede que digamos que, do ponto de
vista das mulheres, relação sexual, papéis sexuais e erotismo podem ser e
muitas vezes são violentos para nós como mulheres.
Minha abordagem invoca a nossa perspectiva; não estamos tentando ser
objetivas sobre isso, estamos tentando representar o ponto de vista das
mulheres. O ponto de vista dos homens, até o momento, chamado de
'objetivo', tem sido usado para distinguir categoricamente entre estupro
de um lado e relação sexual consensual do outro; assédio sexual de um
lado e investida sexual comum do outro; pornografia ou obscenidade de um
lado e erotismo do outro. O ponto de vista masculino os define por
distinção. O que as mulheres experienciam não distingue tão claramente
as coisas diárias e normais dos abusos a partir dos quais elas foram
definidas por distinção. Não se trata apenas de dizer 'Agora vamos pegar
o que você diz ser estupro e chamar de violência'; Agora vamos pegar o
que você diz ser assédio sexual e chamar de violência'; 'Agora vamos
pegar o que você diz ser pornografia e chamar de violência'. Nós temos
uma crítica mais profunda sobre o que tem sido feito à sexualidade das
mulheres e sobre quem controla acesso a ela. O que estamos dizendo é que
a sexualidade em precisamente essas formas normais frequentemente nos
viola. Mas enquanto dissermos que aquelas coisas são abusos de
violência, não de sexo, falhamos em criticar o que tem sido feito do
sexo, o que tem sido feito a nós por meio do sexo, porque deixamos a
linha entre estupro e relação sexual consensual, assédio sexual e papéis
sexuais, pornografia e erotismo bem onde está.
Acho que é útil questionar de que forma mulheres e homens (não uso o termo 'pessoas', eu acho, porque não tenho visto muitas) vivem o significado de suas experiências com estas questões. Quando perguntamos se estupro, assédio sexual e pornografia são questões de violência ou de sexualidade, ajuda perguntar: para quem? Qual a perspectiva dos envolvidos, cuja experiência é de estuprar ou de sofrer um estupro, de consumir pornografia ou ser consumida por meio dela. Quanto ao que essas coisas significam socialmente, é importante se elas são sobre sexualidade para mulheres e homens ou se, em vez disso, são sobre 'violência' - ou se violência e sexualidade podem ser distinguidos dessa forma, conforme são vividos." (tradução livre)
Catharine Mackinnon, "Sex and Violence", em "Feminism Unmodified: Discourses on Life and Law", 1987. pp. 86-87.
Acho que é útil questionar de que forma mulheres e homens (não uso o termo 'pessoas', eu acho, porque não tenho visto muitas) vivem o significado de suas experiências com estas questões. Quando perguntamos se estupro, assédio sexual e pornografia são questões de violência ou de sexualidade, ajuda perguntar: para quem? Qual a perspectiva dos envolvidos, cuja experiência é de estuprar ou de sofrer um estupro, de consumir pornografia ou ser consumida por meio dela. Quanto ao que essas coisas significam socialmente, é importante se elas são sobre sexualidade para mulheres e homens ou se, em vez disso, são sobre 'violência' - ou se violência e sexualidade podem ser distinguidos dessa forma, conforme são vividos." (tradução livre)
Catharine Mackinnon, "Sex and Violence", em "Feminism Unmodified: Discourses on Life and Law", 1987. pp. 86-87.