"Oferecer argumentos é uma coisa, mas um dos problemas políticos cruciais para mim é como lidar com um discurso que não está organizado logicamente. A estrutura de uma conversa como a que acabo de ter na rodoviária de Taubaté (don't ask) não é premissa > conclusão, mas enunciado - questão que supostamente exemplifica o enunciado - outro enunciado. Não há consequência, nada segue de nada; os enunciados são pensamentos pré-fabricados, que podem ser encadeados em qualquer ordem, o conjunto dos quais forma uma atitude difusa e não uma perspectiva coerente sobre o mundo.
Oferecer contra-argumentos lógicos parece inútil, por motivos perfeitamente lógicos: as regras não se aplicam. O que se vê aí é a fatura do abandono do trabalho de base que se fazia no passado. O trabalho de base não apenas desenvolve a capacidade de pensar lógica e autonomamente, mas antes de tudo põe outros enunciados para circular. A internet é ótima e tal, mas, como o mundo em geral, é governada pela homofilia, ie, acabemos falando principalmente com quem já está de acordo conosco. O que o trabalho de base faz é justamente quebrar o círculo vicioso da homofilia; para isso, infelizmente, não acho que exista substituto ou technological fix.
- E agora São Paulo está sem água. Lá no Tucuruvi, onde eu moro, acabou.
- Há quanto tempo?
- Já tem uns três meses.
- E o governo negando que esta faltando água.
- É verdade. E isso vai piorar, viu? Uma cidade que nem São Paulo sem água... (PRIMEIRO SALTO:) E agora o povo reelegeu essa Dilma aí.
- Mas a água é de responsabilidade do estado. A culpa é toda do Alckmin, que negou o problema da água até ganhar as eleições.
(SEGUNDO SALTO:) - A culpa é de todo mundo, não é? Todo mundo que chega lá só quer saber de resolver o seu problema, da sua família, e não se preocupa com o todo.
PS: A fatura do abandono do trabalho de base, mas também da falta de ousadia para pensar uma política para os meios de comunicação, e para pensar a comunicação politicamente."
Rodrigo Nunes - Facebook