14 novembro 2014

"A descoberta de um mundo (continente, planeta, imaginário) não torna existente um mundo inexistente; torna existente uma relação antes inexistente (mas subsistente, que sempre foi possível) entre dois mundos. Trocando as palavras, é.esse o argumento de Oswald em A marcha das utopias."

"Em toda descoberta, o que se descobre não é a coisa, mas a relação com ela"

"Há uma dimensão da perspectiva que só se dá quando há a passagem de um discurso entre diferentes meios. Essa propriedade, empregada de uma maneira bastante especial tanto por Bolaño como por Tarkóvski, é o que torna possível pensar um ritmo para o saber de cor lá que leva em consideração um colapso do material e do tempo, no qual um se converte no outro, ao exercerem forças imensas sobre si mesmos." - aqui


"A gente costuma pensar a poesia como um pequeno nicho da literatura, afinal, é o que vemos nas livrarias: algumas poucas prateleiras dedicadas ao gênero. No entanto, das milhares de línguas da humanidade, apenas um grupo muito reduzido produziu literatura. E na trajetória humana, o período em que há literatura propriamente dita representa somente alguns minutos, preciosos sem dúvida, mas ínfimos, se comparados com aquilo que a humanidade produziu e ainda produz de poesia. Aprendemos a ler com poemas e, ainda hoje, a maior parte do tempo estamos consumindo poesia, como na forma de canções por exemplo. Por isso, faço sempre questão de frisar que a poesia me representa, não a literatura, embora tenha uma profunda ligação com esta." aqui

"Se você quer entender a crítica que os poetas modernos portugueses fazem a ideia de poesia como expressão espontânea dos sentimentos e o motivos deles advogarem uma espécie de analítica das sensações que serviria de matéria à formalização poética, basta você ver a diferença entre um bêbado chato enchendo seu saco no bar pelo amor perdido e a música garçom do Reginaldo Rossi: o primeiro não te comove apesar de toda espontaneidade, já com a segunda você canta e sofre junto graças ao trabalho formal do compositor com os sentimentos de um bêbado chato aporrinhando um garçom." - Kigenes Simas

O carro e o trânsito segundo os situacionistas (trechos da época da construção de Brasília, vale notar, essa instanciação simbólica e material do auto(i)mobilismo):
“O desenvolvimento do meio urbano é a educação capitalista do espaço Ele representa a escolha de certa materialização do possível, com a exclusão de outras (...) O trânsito é a organização do isolamento de todos. Constitui o problema preponderante das cidades modernas. É o avesso do encontro: um sugador de energias disponíveis para eventuais encontros ou para qualquer espécie de participação”.
“O erro de todos os urbanistas é considerar o automóvel individual essencialmente como um meio de transporte. A rigor, ele é a principal materialização de um conceito de felicidade que o capitalismo desenvolvido tende a divulgar para toda a sociedade. (...) O tempo gasto nos transportes, como bem observou Le Corbusier, é um sobretrabalho que reduz a jornada de vida chamada livre. Precisamos passar do trânsito como suplemento do trabalho ao trânsito como prazer”. (Guy Debord)

“Os urbanistas revolucionários não se preocuparão apenas com a circulação de coisas, nem apenas com homens paralisados num mundo de coisas. Tentarão romper essas cadeias topológicas por meio da experimentação de terrenos, para que os homens transitem pela vida autêntica” (Guy Debord)

Alexandre Nodari - Facebook