"quem quer casar com o poeta", poema de valter hugo mãe
na revista brasileiros (dez. 2013)
uso o coração para os alfinetes, subo
as beiras das calças, coso botões, alinhavo
camisas a cortar, amariquei também
os braços com tatuagens do teu
nome, vou esquecer-te rapidamente até
que o mundo seja ao contrário, porque
o amor ao contrário é um ódio
grande que cura os meus males, quem
quiser casar comigo, outrora
formoso e prendado, há de encontrar-me
aqui, monstruoso e paciente, a sopa ao
lume, os filhos sonhados como projeções
nas paredes escuras, cabelos pelo chão
gatos vadios
a minha casa é sob o alçapão,
não diz nada, podem encontrar-me pelo odor
a morte crescendo ou pelas linhas caídas,
sobrantes da tarefa árdua de repensar o
que vestir, mas se voltasse a sair à rua, gostava de
ter coragem para sair nu, talvez apenas os
gatos em meu redor, como fogo persa, sujo,
outrora tão formoso e flamejante, agora
atiçado aos pescoços de quem passa
via: Angelica Freitas
na revista brasileiros (dez. 2013)
uso o coração para os alfinetes, subo
as beiras das calças, coso botões, alinhavo
camisas a cortar, amariquei também
os braços com tatuagens do teu
nome, vou esquecer-te rapidamente até
que o mundo seja ao contrário, porque
o amor ao contrário é um ódio
grande que cura os meus males, quem
quiser casar comigo, outrora
formoso e prendado, há de encontrar-me
aqui, monstruoso e paciente, a sopa ao
lume, os filhos sonhados como projeções
nas paredes escuras, cabelos pelo chão
gatos vadios
a minha casa é sob o alçapão,
não diz nada, podem encontrar-me pelo odor
a morte crescendo ou pelas linhas caídas,
sobrantes da tarefa árdua de repensar o
que vestir, mas se voltasse a sair à rua, gostava de
ter coragem para sair nu, talvez apenas os
gatos em meu redor, como fogo persa, sujo,
outrora tão formoso e flamejante, agora
atiçado aos pescoços de quem passa
via: Angelica Freitas