25 agosto 2016

Manuel Bandeira tem uma crônica que começa com um formidável 

"Uf! Acabei de posar para Celso Antônio". 
Quando o bicho pega, fico querendo começar todos os textos com Uf! Acabei de posar para Celso Antônio. Inclusive os acadêmicos. Acho que vou começar minhas aulas também assim. Pelo menos com o Uf, que pode ser bastante útil em sala. Começar é quase sempre estranho e bom, e estranho. Às vezes acontece de um começo acontecer sem que se saiba que algo realmente começou ou está começando, como a amizade, que pode terminar abruptamente mas no geral começa de modo não muito claro. Terminar pode ser mais difícil que começar mas um bom começo (de texto) exige mais brio, ou um mau-humor bem mau como sugeria o Czeslaw Milosz. Claro, um texto começa em qualquer ponto, os meus começam geralmente no segundo ou terceiro parágrafo e vão crescendo para trás (para cima?) até atingirem o começo (o topo?) e simultaneamente vão se derramando, caindo, rolando ladeira abaixo também, até tudo terminar (no chão? no buraco? no nada?). Às vezes está todo pronto, mas a primeira palavra ainda não veio. Uf! Acabei de posar para Celso Antônio.


(preciso dedicar este post a Noemi Jaffe que escreveu um delicioso 'Livro dos começos')


Laura Erber