"(1) Certas atitudes e traços da vida cotidiana não parecem mais
ideologicamente marcados. Passam por neutros. Naturais. Ninguém
questiona a sua origem. Não por acaso, é comum dizer que saberíamos se
houve ou não uma revolução, quando o senso comum fosse afetado. Não
houve revolução. Mas há uma contrarrevolução violenta, permanente e
invisível;
(2) A naturalização da ideologia dominante se afirma como o seu contrário: a não ideologia. A violência simbólica se afirma como o seu contrário: a não violência. Essa estrutura perversa aceita até o cinismo de nomear a violência permanente de pacificação;
(3) A violência (simbólica e real) contra o oprimido é a não violência. É aquilo mesmo que é natural. No entanto, a explosão violenta do oprimido, por ser tão incomum, é reconhecida como barbárie;
(4) Bárbaros são, como sempre foram, aqueles que, voluntaria ou involuntariamente, não estão imersos na ideologia dominante. Podemos dar muitos nomes, que aumentam a distância que nos separa deles e que naturaliza a violência contra eles: terroristas, bandidos, putas, radicais, misândricas. Sob o signo da misandria uma mulher pode ser colocada com facilidade no lugar de opressora, sem a necessidade de nenhuma análise mais profunda;
(5) A misandria, um discurso de ódio aos homens, parece muito mais alto, muito mais potente, porque o ódio às mulheres seja na forma de estupro, assassinato ou de simples objetificação é natural. Ninguém questiona a sua origem. Ninguém questiona a origem dessas relações de poder, porque elas não aparecem como relações de poder, mas como relações naturais. Se preferirem, consensuais;
(6) Consensuais, não entre duas pessoas, mas entre todos nós, que aceitamos, em consenso: não existe violência simbólica nem hierarquia de poder nas relações entre homem e mulher. Afinal, estamos lidando com aquilo que é natural, esvaziado de ideologia e só passível de críticas/análises no campo moral;
(7) Não há coincidência entre sujeitos sexuais/sujeitos políticos e objetos sexuais/objetos políticos? Não há violência simbólica no desejo?
(8) Uma mulher não reage contra a violência simbólica porque – tanto como nós – tem extrema dificuldade de reconhecê-la.
(9) A ideologia é como uma figura holográfica: se movimentarmos um pouco as situações, conseguimos enxergá-la. Mas, neste momento, estaremos inelutavelmente sós. Inelutavelmente incompreendidos. Seremos bárbaros."
(2) A naturalização da ideologia dominante se afirma como o seu contrário: a não ideologia. A violência simbólica se afirma como o seu contrário: a não violência. Essa estrutura perversa aceita até o cinismo de nomear a violência permanente de pacificação;
(3) A violência (simbólica e real) contra o oprimido é a não violência. É aquilo mesmo que é natural. No entanto, a explosão violenta do oprimido, por ser tão incomum, é reconhecida como barbárie;
(4) Bárbaros são, como sempre foram, aqueles que, voluntaria ou involuntariamente, não estão imersos na ideologia dominante. Podemos dar muitos nomes, que aumentam a distância que nos separa deles e que naturaliza a violência contra eles: terroristas, bandidos, putas, radicais, misândricas. Sob o signo da misandria uma mulher pode ser colocada com facilidade no lugar de opressora, sem a necessidade de nenhuma análise mais profunda;
(5) A misandria, um discurso de ódio aos homens, parece muito mais alto, muito mais potente, porque o ódio às mulheres seja na forma de estupro, assassinato ou de simples objetificação é natural. Ninguém questiona a sua origem. Ninguém questiona a origem dessas relações de poder, porque elas não aparecem como relações de poder, mas como relações naturais. Se preferirem, consensuais;
(6) Consensuais, não entre duas pessoas, mas entre todos nós, que aceitamos, em consenso: não existe violência simbólica nem hierarquia de poder nas relações entre homem e mulher. Afinal, estamos lidando com aquilo que é natural, esvaziado de ideologia e só passível de críticas/análises no campo moral;
(7) Não há coincidência entre sujeitos sexuais/sujeitos políticos e objetos sexuais/objetos políticos? Não há violência simbólica no desejo?
(8) Uma mulher não reage contra a violência simbólica porque – tanto como nós – tem extrema dificuldade de reconhecê-la.
(9) A ideologia é como uma figura holográfica: se movimentarmos um pouco as situações, conseguimos enxergá-la. Mas, neste momento, estaremos inelutavelmente sós. Inelutavelmente incompreendidos. Seremos bárbaros."
Daniela Lima - Facebook