"esse desejo de fazer justiça ao outro é o que faz com que Derrida
afirme que a Desconstrução é o que acontece, ela está no mundo, e, nesse
sentido, cabe então ao filósofo a tarefa de pensar tais acontecimentos,
configurando um engajamento radical com a realidade (tal como entendida
por Derrida). É nesse sentido que, mais do que um desconstrutor, ou
seja, o sujeito que desconstrói, o filósofo deve ser aquele que pensa as
desconstruções, pois as estruturas, os
textos, os discursos já se apresentam a nós carregando no íntimo a
própria desconstrução. Como disse certa vez Derrida, a Desconstrução
consiste em enxergar a partição no coração dos conceitos, pois estes já
são desde sempre partidos – e só conseguirá ver tal partição o filósofo
que também tiver seu coração partido, ou seja, que carregar nele mesmo a
marca da interdição e conseguir suportá-la. O filósofo, em seu amor
pelo mundo, deve suportar estar diante do trauma que é a desconstrução
do próprio mundo, da precariedade de sentidos e da espectralidade do
real, e estar sempre disposto a denunciar toda e qualquer postura
autoritária que tente apresentar o mundo em sua plenitude, o real em sua
totalidade, espantando assim o assombro originário que é o que inaugura
a própria filosofia".
Daniela Lima - Facebook