"A classe média. Virou moda, em parte do PT, denunciar a classe média como preconceituosa, sobretudo em SP. Ela seria detentora de uma ideologia mais que conservadora, reacionária.
O discurso que denuncia esta classe parece marxista. Mas não é.
Porque uma das contribuições importantes do marxismo diz respeito às bases materiais do pensamento. Notem, não falo em superestrutura, em reflexo, nada mecanicista. Mas é a versão sofisticada, materialista, do "onde tem fumaça, tem fogo" (obs - esta é uma piada. Ou era para ser).
Então, se a classe média tem horror do PT, por que o tem?
Penso que uma base material para tanto está na percepção de que paga por serviços públicos que não utiliza. Educação, saúde, transporte e segurança públicos são pagos com impostos, que no caso da classe média capturam parte razoável da renda (maior, proporcionalmente, que entre os ricos), mas ela não vê o Estado devolvendo isso.
Esta é a base material.
A expressão dessa revolta é indigente. Apela a preconceitos, sim, escolhe de todas as esferas de governo as que estão com o PT e acaba até, como está rolando na Internet, se irritando mais com as ciclofaixas do que com a falta d'água...
Mas limitar-se a vituperar a classe média é um erro, tanto político quanto teórico. A classe média se tornou suscetível a uma propaganda reacionária com base em decepções bem concretas. Quem quiser fazer política no Brasil faria bem em tentar ver onde está essa decepção (e não precisa buscar muito, eu já desenhei aí acima) e, aí sim, fazer uma luta ideológica para (re?)conquistar um eleitorado significativo, que hoje está mais ou menos perdido para a esquerda."
Renato Janine - Facebook