18 janeiro 2017

"OBRE MEMÓRIAS E ESQUECIMENTOS
Tenho sido muito cobrado por ter supostamente defendido que a memória do regime militar seja esquecida, no sentido de ocultada. Nada mais falso. Sempre defendi o binômio de Nelson Mandela: verdade e reconciliação. Sem a perspectiva da reconciliação a busca da verdade se apequena, e reconciliação sem verdade é hipocrisia.

Não tivemos, no Brasil, maturidade suficiente para construir um processo desse tipo. Pagamos caro por isso. O regime militar continua como um fantasma que nos prende ao passado. Temos sido até incapazes de reconhecer que nos últimos 25 anos as forças armadas têm tido um comportamento exemplar em relação às instituições democráticas.
Pessoas, grupos, países e povos que viveram experiências muito mais duras e mais prolongadas que a nossa, como os sul-africanos, foram capazes de dar esse passo. É assim que se faz história.
Lembrar para poder nos libertar da lembrança – é disso que se trata. As pessoas sadias vivem a vida assim, lembrando e esquecendo. Quem não pode lembrar permanece atormentado pela interdição da lembrança. E quem não sabe esquecer enlouquece.
Esse equívoco que cometemos foi mais um tijolo na construção do muro que separa o Brasil e o futuro. Ter recusado a indenização associada à anistia foi uma forma, que encontrei, para deixar claro que não compactuava com o caminho que estava sendo seguido.
Guerreei quando achei que era preciso guerrear, mas não gosto de gente que anuncia muita coragem fora de tempo e lugar."

Cesar Benjamin