18 janeiro 2017

"... nós, progressistas, antifascistas, homens de esquerda, somos responsáveis por esses massacres. De fato, em todos estes anos não fizemos nada: 1. para que falar de 'Massacres de Estado' não se tornasse um lugar comum e tudo ficasse por isso mesmo; 2. (e mais grave) não fizemos nada para que os fascistas não existissem. Limitamo-nos a condená-los, gratificando nossa consciência com a nossa indignação; e quanto mais forte e petulante era a indignação, mais tranquila ficava a consciência. Na realidade nos comportamos com os fascistas (refiro-me sobretudo aos jovens) de maneira racista: quer dizer, quisemos apressada e impiedosamente crer que estavam predestinados por sua raça a serem fascistas, e perante essa decisão do seu destino não havia nada a fazer. E não o dissimulemos: todos sabíamos, em nossa sã consciência, que era por puro acaso que um daqueles jovens 'decidia' ser fascista, que se tratava de um mero gesto imotivado e irracional; talvez uma só palavra tivesse bastado para que isso não acontecesse. Mas nenhum de nós jamais conversou com eles, nem sequer lhes dirigiu a palavra. Aceitamo-los rapidamente como inevitáveis representantes do Mal. E eram certamente rapazes e moças de dezoito anos, que não sabiam nada de nada, e que mergulharam de cabeça nessa horrenda aventura por simples desespero."
(PIER PAOLO PASOLINI - 'O Verdadeiro Fascismo & O Verdadeiro Antifascismo' - in: "Os Jovens Infelizes")