13 janeiro 2017

"AUGUSTO DE CAMPOS: "Penso, como Cage, que a vanguarda — que prefiro chamar de poesia de “invenção”, a partir da classificação de Pound, para abarcar tanto o passado (como o trovador provençal Arnaut Daniel) quanto o presente — sempre exisitirá e não precisa ser um fato coletivo. É sinônimo de “curiosidade” e de “liberdade”. Não apenas expressar, mas mudar. Sempre haverá artistas que não se satisfaçam com a linguagem corrente, e queiram explorar novos caminhos, e não apenas falar da sua vida. No que diz respeito às “utopias“, apesar de me considerar pessimista, adoto a concepção de Oswald, que associo às ideias de Cage sobre vanguarda. “No fundo de toda utopia não há somente um sonho, há também um protesto”. Temos direito permanente ao fracasso da utopia. O universo digital e a internet são utopias que — para o bem ou para o mal — deram certo sob muitos aspectos. Mudaram a forma de comunicação mundial em duas décadas. A linguagem mudou, está mudando, e isso tem reflexos na própria linguagem da poesia que se faz hoje e que não pode ser a mesma do passado. Walter Benjamin, em 1926, predizia: “No futuro, antes que alguém abra um livro, desabará sobre seus olhos um turbilhão de letras móveis, coloridas, conflitantes. Nuvens de letras-gafanhotos. As chances do mundo do livro serão reduzidas a um mínimo. E os poetas terão que se tornar especialistas em grafias e diagramas para enfrentar o desafio das novas tecnologias.” É bom pensar nisso. Senão a poesia do “agora”, que o Haroldo postulava, pode virar poesia do “outrora”…