22 agosto 2016

Sobre Anjos Eventuais

"Se você está andando numa rua sozinha e, do nada, uma pessoa aparece pra te fazer companhia, ela não é um anjo, é uma pessoa normal mas, naquele instante, é um anjo eventual. Nós podemos ser anjos eventuais também e, provavelmente, já fomos algumas ou muitas vezes.
Uma vez eu estava muito aperreada, e nessa época minha válvula de escape era andar sozinha, mesmo que fosse em plena Avenida Canal, quando de repente apareceu uma moça que me perguntou onde era uma determinada rua, o que é claro que eu não sabia. Quando ela viu que eu estava chorando (não por não saber onde era a rua, claro, eu estava mesmo mal) me acompanhou até o ponto mais próximo de táxi e só saiu quando eu entrei no carro. Só por ter conversado comigo naquela hora ela já teve seu momento de anjo eventual.

Outra vez, em um domingo de manhã, quem teve esse papel foi Odimar Bomfim, que do nada ligou pra mim e leu um poema de Flora Figueiredo, me salvando em outro momento de tristeza.

Mas é claro que você pode duvidar dos anjos, inclusive dos eventuais, e colocar tudo no pacote das coincidências. Ou de uma espécie de transmissão de pensamento. Aconteceria outras vezes comigo, mas feitas com muito esforço - quem já tentou sabe que é muito difícil fazer este elo. Um vez eu queria muito que um futuro-namorado-depois-futuro-ex ligasse pra mim. Estava apaixonada e precisava ouvir sua voz. Ele telefonava às vezes, estudávamos juntos e de vez em quando combinávamos alguma coisa, como trabalhos em grupo. Só que já era mais de meia-noite, o que fazia com que tanto esforço fosse quase em vão. E não existia celular.
Só que ele ligou. Não era apaixonado por mim, nem nada. Havia música alta e foi preciso falar bem alto pra eu escutar:

- Estou aqui numa festa, não sei porque resolvi ligar pra você."

Alana Agra