03 novembro 2014

"Não acredito no Estado. Não acredito na representação centralizada, vertical e salvadora. No limite, ela é apenas uma secularização da figura ditatorial/bondosa divina e do monarquismo ontológico, o ultra-Pai dos ocidentais. Nada virá dessa imagem desgastada e batida que já não tem parentesco com o que opera nas ruas, nas redes nômades e ingovernáveis que fraturam as unidades e cortam as continuidades insuportáveis com o mundo que está aí. Essa multiplicidade é que realmente provoca a mudança, contra o poder, e não o tomando. A hipótese anarquista não é a do melhor governo, mas dos corpos que manifestam indiferença ao poder. Descentralizar, multiplicar, desconstruir, variar. É disso que pode nascer o novo, do húmus desses movimentos que enfrentam os escudos policiais, que vota com os pés. A política contra a polícia.
Voto, no entanto. Voto porque não podemos abrir mão da estratégia, das táticas e isso significa que vamos precisar de agentes infiltrados, espiões, alianças inconsistentes e outras dessas medidas, como disse Donna Haraway recentemente. Vamos não apenas precisar conviver com contradições, mas nos livrar da lógica dialética da contradição. Não desprezo o voto nulo, obviamente (dependendo das circunstâncias que virão, será inevitável), mas ele também tem que ser estratégico. Votar pode ser abrir frestas como pequenos Cavalos de Troia no poder instituído. É sempre isso que calculo quando voto."

Moyses Pinto - Facebook