03 novembro 2014

"Vamos tentar fazer isso sem raiva e ressentimento e conversar racionalmente sobre o tema:
Não voto em Dilma porque o projeto nacional-desenvolvimentista que ela vem implementando é para mim tão repulsivo quanto o neoliberalismo. Meu problema não são as contradições, mas o projeto mesmo. Ao contrário da maior parte da esquerda, coloco a questão ecológica como dimensão inerente, não externa, ao desenvolvimento. Acredito que estamos às vésperas do colapso ambiental e não há mais tempo para o pensamento "primeiro vamos crescer, depois pensamos nisso". Apesar disso, votei muitas vezes no PT, me sinto identificado com boa parte das suas lutas e reconheço seus méritos. Defendi os 8 anos de Lula sempre que pude. O que parece estar faltando para a campanha de Dilma é um compromisso do próprio partido que ajude a militância por aqui. A alegação do fim do mundo não colabora para convencer quase ninguém e o que o PT precisa para atrair votos à esquerda é estabelecer compromissos que possam gerar motivos para a esquerda votar no PT. Eu citaria alguns possíveis compromissos como a) desmilitarização da polícia, b) volta das demarcações das terras indígenas, c) avanço na pauta LGBT, d) mudança na política de drogas, e) fim da repressão e vigilância dos movimentos sociais, f) reforma política, etc. Assumindo uns 3 desses compromissos (ou outros próximos desses), tenho certeza que a militância conseguiria mais votos para o PT que ofendendo e chamando os outros de omissos ou irresponsáveis. O que se precisa são gestos de mudança efetivos, não retórica apocalíptica. Vejam o caso da Rede: se o PT fizesse algum gesto afirmando que não irá bloquear o avanço da Rede, por exemplo, já convenceria muitos militantes ao mal menor. Mas nada. Só cobranças, inquisitorialismo, a retórica do "se você não vota no PT está entregando o país para a direita". Isso já foi dito em 2013 e foi recusado: acabou a quarentena. Há momentos em que não se trata mais de apoiar irrestritamente, mas em que quem é apoiado deve conseguir se reciclar para que possa receber novos apoios ou não perder os antigos. Sabemos pela experiência do século XX que toda vez que há ruptura dentro da esquerda a direita pode se fortalecer, mas também que sem essas rupturas a esquerda pode se tornar um monstro centralizador, autoritário e burocrático. A decisão é difícil, mas o problema é velho."

Moyses Pinto - Facebook