02 setembro 2014


"Minha timeline está se matando com ofensas e textos que ridicularizam as posições alheias, fazem analogias estapafúrdias e destroem qualquer possibilidade de um debate baseado em argumentos. Ou talvez, no fim das contas, eu tenha acreditado mais no Habermas e no debate argumentativo na esfera pública do que gostaria.


Em todo caso, o governo não deveria estar no centro da política. As transformações radicais que geram os conflitos na timeline não virão de governo algum, Dilma, Marina ou Aécio. E nem seria desejável que o Estado impusesse de cima, de modo autoritário, essas transformações. Já deveríamos ter aprendido que a "consciência iluminada" que guia o processo de cima para baixo é mais que nefasta e que as alternativas utópicas precisam emergir de baixo para cima, a partir dos movimentos sociais e da sociedade inimiga do poder. O Estado é apenas um canal que filtra as demandas e permite ou não a passagem dessa insurreição dos corpos e espíritos. Quando escolho a candidata, se é que vale a pena escolher, é apenas calculando que frestas podem ser abertas para que a utopia possa passar por dentro desse sistema mais ou menos fechado.

Por isso, sei lá, talvez seja bobo e ingênuo da minha parte, mas acho que não vale a pena se engalfinhar pelas migalhas de participação política que são as eleições, como vejo boa parte da timeline fazendo entre si. O gosto ruim da acidez atual envenena relações que foram construídas a partir de linhas de fuga mais intensas que a disputa político-partidária de outubro. Tomara que essa guerra sirva no mínimo para empurrar as candidaturas para a esquerda, na direção oposta que seguiu em 2010 e durante os 4 anos do mandato de Dilma. Ao menos isso, já que a energia que vem sendo gasta por aqui é muita.

Apesar da guerra atual na timeline, meu desejo é que a aliança entre os ingovernáveis contra o poder supere o narcisismo das pequenas diferenças eleitorais."

"(PS: Aos que estão se embriagando de ódio na luta pelo poder recomendo sempre a força subversiva do amor e da vida em detrimento desses impulsos mortíferos que têm comandado a timeline. O amor não é piegas, na verdade é uma força revolucionária incontrolável quando acionada. Essa força é saúde, enquanto a raiva perenizada é doença. E não se esqueçam que a revolução - seja qual o significado se queira dar à palavra - não virá dos gabinetes)."

"O racismo não é uma questão de tolerância. Já critiquei isso numa reportagem da ZH em que menciona o racismo como "intolerância" do gaúcho. Eu tolero o que do outro me incomoda. A cor da pele do outro não pode me incomodar. A diferença não é algo a ser "tolerado". Quem é racista tem que se tratar e tentar entender que fantasmas enxerga no outro.

Em suma, o racismo não é questão de intolerância, mas sim de violência."

Existe um problema que está acima das divergências partidárias e até da política. Ele deixa a questão eleitoral que hoje nos envolve parecendo brincadeira de criança. É o problema mais importante de todos no Brasil. Um problema ético. Eu o resumo da seguinte forma: enquanto os brasileiros não aprenderem a tratar o outro como alguém que existe e merece viver, continuaremos sendo esse país injusto e violento.

Óbvio? Claro que é óbvio. Mas pense quantas vezes ouvimos no cotidiano frases que racionalizam o assassinato direto (inclusive por meio de instituições estatais) ou indireto (fome, falta de saúde, falta de um solo para morar etc.) por parte das mais diversas pessoas. Infelizmente são muitas e repetidas em qualquer canto. Isso é falta de decência, falta de um sentido moral onde decência e moral não são apenas papo de velhas pudicas, mas o respeito ao mínimo do mínimo que podemos concordar: o valor da vida.

Enquanto não vencermos esse senso comum, todo resto é pouco, esteja quem estiver nos governando."

Moyses Pinto - Facebook