03 setembro 2014


"O ódio ao Outro, o racismo e suas variações (fobias, patriarcados...), é o dado, é a própria Natureza da forma-Estado. Um exemplo banal - e ao mesmo tempo profundo. Vejam só como a história do professor que foi espancado por uma turbamulta justiceira está sendo tratada pela mídia em geral: como uma história de superação - com o endosso de psicólogos e tudo mais -, não como a história de violência. Aos olhos destes tudo se passa como se o rapaz tivesse sobrevivido a uma tragédia natural, a uma enchente, a um raio, e não a um, mais um, desdobramento desse ódio ao outro (punitivismo, racismo...) que está na base do nosso processo civilizacional, que está na origem da forma-Estado (é, na verdade, a sua própria condição). Isto é, tudo se passa como se ele fosse uma vítima de algo que não pode ser mudado, de algo que está além (muito além) de nossas forças, da nossa esfera de responsabilidade. 


Não é de se estranhar que - parafraseando o outro -, hoje, seja mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do Estado (ou do capitalismo e afins). Afinal, Ele foi capaz de nos convencer que sua origem é inevitável, que está numa espécie de ordem transcendente, que está na forma como a própria Vida se organiza, que já se ensaiava na evolução dos primeiros organismos unicelulares, no momento em que o "mais forte" se tornou o "mais apto" - como nos ensina a vulgata científica. 

E esse foi o grande golpe do Estado."

Orlando Calheiros - Facebook