12 dezembro 2016

O futuro? Tem orelhas,
mas é surdo. E é manco.
Se arrasta, sem espanto
mas alheio do que lúcido
com o nosso despreparo.
Se fosse um deus amava o humano, mas como não existe
o futuro tem de amansar seus ventos, marcando as peles,
as montanhas. Sendo um gênio, não é um exército
de cronogramas, nem de antecipações.
Tem firmeza de flor. E é
invisível, reconhecido
por seus efeitos de brisa
furacão. Nunca adiado.
Não tem nada a ensinar
no entanto é um mestre
dizem os esgrimistas
os observadores de saltos
os gatos também
aprendem certos truques com ele.
E se ama os despreparados
lhe sabem tanto os que fazem
quanto os que esperam.
Os otimistas valem mais
valem quanto?
Com bifurcações,
sucessivas gerações
de bem-aventurados
que topam em pedras
cicatrizam e correm
bem alimentados
com fome de mais
alimento.
São seus sinais
os imprevistos, os cavalos
os pontos cardeais,
os cinco sentidos
e os sete buracos da cabeça.
Júlia de Carvalho Hansen, em Seiva veneno ou fruto.

via Pricilla Campos