24 agosto 2016

Por Sabrina Aquino

"Nasci e morei um bom tempo da minha vida em cidade do interior de MG, e vou falar pra vocês sobre uma coisa que sempre me fez odiar com todas as forças viver nesse lugar. Existe um comportamento muito comum na sociedade capitalista que é a necessidade de parecer "winner", pois, é vendido que na vida só existem dois tipos de gente: winners ou losers (dentro do padrão pré estabelecido do que são as características de cada qual). E ninguém quer ser loser, obviamente. Acontece que, como é cidade interiorana, provinciana e até meio afastada da realidade de cidades muito maiores e mais diversas, a mania de competir e demonstrar sucesso é latente, porque vc tem um grupo espectador mais comprometido e dependente das atualizações e nem precisa vigiar o facebook alheio, pois isso se percebe no dia a dia, pela roupa que alguém anda, com o carro novo que a pessoa aparece na igreja aos domingos e no simples fato de comentar com alguém cercano, que de boa fé, comenta a outro e assim se espalha porque a cidade é pequena mesmo: "viu, fulano comprou apartamento", "sabe onde a cicrana e o beltrano foram viajar de férias?". "Joãozinho trocou de carro". E vivendo aí nesse contexto vc acaba se sentindo cobrada e sendo obrigada a responder esses estímulos de competição de "não ser uma loser", e muitas vezes, sem se dar conta. Pois bem, um dia me dei conta e passei a cagar.
Houve um tempo que me afetou muito essa cobrança e essa competição de 'quem tá mais bacana na vida', inclusive entre amigos TODOS FODIDOS pagando prestações e mais prestações, eu ali toda danada, trabalhando e estudando, me virando nos trinta todo dia, mas rodeada de gente que andava no salto alto, sem dar pinta de loser (e eu me sentindo lixão pq não dava conta de acompanhar, nem que eu me virasse em duas). Até que um dia deixei de ligar e virei a pessoa mais feliz do mundo por hoje nem lembrar como é viver pendente dessas bobagi. Hoje rio da vontade, da necessidade dessa gente ser V.I.P. ou se sentir "winner" na JEQUICE, numa cidade cafona (sim cafona, com privação de beleza estética, com muita dificuldade de transporte urbano coletivo, na sua ditadura do carro, na sua demarcação elitista de espaços urbanos usando parâmetros da jequice competitiva, usando padrões incompatíveis pra tal contexto, na feiura propriamente dita), e com sentimento pequeno burguês da roça."