23 agosto 2016

O rabo e a boca

"A conquista crítica da liberdade intelectual exige uma cirurgia traumática: aquela que secciona o longo nervo que liga o rabo à boca. De rabo preso, ninguém pensa verdadeiramente. E quem não vive como pensa, acaba pensando como vive. Na era do contágio emocional e do adesismo facilitado por "compartilhamentos" e "seguidores", são cada vez mais escassos os independentes, os não alinhados e nem alinháveis (penso aqui em um Albert Camus, por exemplo). Mas quem tiver algum resíduo de sensibilidade histórica, logo concluirá que o mundo transformou-se bem mais pelo uivo de dois ou três lobos solitários do que pela afinação do coral de centenas de meninos amestrados. E enquanto seu lobo não vem, fiquemos com essa marmota com rabo na boca, um manjar da tradição lusitana que se perdeu das nossas mesas coloniais."
Marcus Fabiano