06 agosto 2016

"O que não dá mais para tolerar - e isso é muito positivo - são os feministos por conveniência. Ótimos em redigir belos discursos de adesão, postar listas de artistas mulheres ou comemorar enfaticamente a vitória das heroínas do esporte, mas sem por isso perder a chance de fazer um contra-ataque de desmoralização pública das feministas que detestam, ou atropelar tranquilamente a fala de suas colegas de trabalho, entre muitas outras coisinhas simpáticas. Nunca me colocaria no lugar de porta-voz das reflexões e demandas que o movimento negro e só ele pode realizar, mas é claro que devo refletir e poder discutir sobre racismo no Brasil, mas especialmente aquele racismo que se manifesta como uma espécie de cumplicidade tácita entre brancos em diversas situações. Desfazer esse pacto sinistro que nos une é fundamental e não passa tanto pela produção de textos ou exibição de consciência crítica, mas por gestos e posicionamentos em situações concretas. O feminismo pode (e deveria) atuar no campo dos discursos como uma perspectiva drasticamente crítica que depende fortemente da dimensão autocrítica. Mas não há fórmulas para esse exercício e acreditar que há é já entrar perigosamente no campo da ilusão de controle da linguagem, inclusive da própria." - 

Laura Erber