20 agosto 2016

A solidão, para Ana, era imensa. Tudo aquilo que ela via, tudo o que ela sentia era a ruptura que a separava do que ela via e sentia. As nuvens fúnebres, mesmo que cobrissem o jardim, entretanto, permaneciam invisíveis na nuvem que as envolvia. A árvore, desenhada a alguns passos, era a árvore em relação a qual ela estava ausente e totalmente distinta. Em todas as almas que a circundavam como tantas claridades, e que ela podia tão intimamente aproximar de sua própria alma, havia, única claridade que as permitiu perceber, uma consciência silenciosa, fechada e desolada, e é a solidão que criava ao redor dela o doce campo das relações humanas nas quais, entre infinitas relações plenas de harmonia e de ternura, ela via vir a seu encontro sua dor mortal.

De "Thomas l'obscur"... - Maurice Blanchot

Via: página de notas do Vinicius Honesko