07 dezembro 2014

Pra uso diário

"A mensagem que estou extraindo de tudo isso é que pra muita gente a esquerda é o showbiz. Mas um showbiz com a peculiaridade de ser inquestionável, porque arrota certa legitimidade. Ao mesmo tempo em que questionam o sistema representativo, esses figurões moldam um cenário de privilegiados intelectuais com aparente empatia pelos oprimidos e se entitulam a nova esquerda. Ou seja, fundam um novo e nebuloso sistema representativo, que tem as redes sociais como mídia, mas que, como toda mídia, continua estabelecendo certos critérios para dar visibilidade a este ou aquele discurso. Esta mídia tem seus eleitos, não se enganem. E eles não são muito diferentes dos eleitos das mídias corporativas, porque precisam dominar certas linguagens, instrumentos e precisam saber se projetar. Ou seja, a lógica é elitista. Eu não posso acreditar que essa gente queira mais transformação social do que alguém que sofre certas coisas na pele. Quem tem que protagonizar os seus processos de transformação social são os que sofrem as tantas modalidades de opressão: as mulheres, os negros, os trabalhadores, os indígenas. Chega de messias. Eu não sei de onde vem a empatia de alguns que nunca pisaram certos ambientes onde as opressões acontecem. De onde brota? Semideuses não podem mais passar. Sêmen-deuses não passarão."

Maria Gabriela Saldanha