15 novembro 2014

Sobre a possível entrada do Julien Blanc no Brasil acabo de ver no blog da Lola a seguinte afirmação (feita, segundo ela, por uma diplomata que entrou em contato por e-mail): "A segunda coisa é a PF entender que a mera palestra já constitui um crime e impedir a entrada dele no Brasil, caso ele venha. Mesmo com visto válido, a entrada no Brasil é mera expectativa de direito. Ele pode ser proibido de entrar pela PF caso se entenda que a presença dele é prejudicial à imagem do Brasil no exterior."
Polícia Federal pertence ao poder executivo e em uma democracia não tem poder pra definir que uma mera palestra é crime, nem julgar conteúdo de palestra nenhuma, especialmente quando a palestra sequer foi proferida. Ou seja, Polícia Federal julgar conteúdo de palestra é CENSURA, sim.
E se Polícia Federal vai julgar esse suposto conteúdo (pois a palestra sequer foi proferida!), nada impede que a PF julgue também outros conteúdos e impeça a entrada de quem vier ao Brasil palestrar sobre uso de células tronco, direito ao aborto, descriminalização de drogas, direitos de crianças transsexuais, ou qualquer tema considerado polêmico.
Para ficar num exemplo simples, nada impede que ativistas religiosos (que são em muito maior número e bem mais organizados que feministas) consigam criar petições online e pressionar para barrar a entrada no Brasil de quem venha palestrar defendendo ideias divergentes de sua doutrina. Já sabemos muito bem o quanto o governo atual é refém de posicionamentos religiosos, e não é nada inteligente que movimentos sociais permitam a abertura de mais esse flanco.
E sobre imagem do Brasil no exterior: o Brasil pode escolher a imagem de censor ou de um Estado que não faz censura prévia e que pune quem faz palestra misógina. A julgar pelo auê em torno de uma petição que muda de destinatário com frequência, a opção é pela censura. Depois não venham olhar torto pra quem pede intervenção militar: achar ok que a polícia federal decida se uma palestra não proferida é crime também é uma forma de endossar censura e truculência estatal.