19 setembro 2014

"Se não há contradição entre lutar e votar, por que será que o calendário das lutas e das greves são pautados, modificados e, muitas vezes, esvaziados em virtude do calendário eleitoral?

Se não há contradição entre lutar e votar, por que se esforçam tanto em colocar a luta nas ruas em função do blá blá blá eleitoral, como se vencer tal disputa e conseguir um cargo qualquer fosse um fim em si mesmo?

Se não há contradição entre lutar e votar, me digam quais as razões dos acordos às portas fechadas que vendem a luta do povo? Em que gabinetes o empoderamento popular é esvaziado, cooptado, domesticado, burocratizado? Por que será que as bases das mais diversas categorias tocaram no ano que passou suas greves independentemente (e muitas vezes contra) suas direções partidárias? Quem financia o processo eleitoral?

Digo que a disputa eleitoral, manipulável e controlável, posto que vendível, passa a importar mais do que a luta do povo tendo em vista invisibilizá-la naquilo que ela possui de potencialmente revolucionário. E isso não é um acaso. A contradição que há é sistêmica, é uma contradição entre fins e meios, e ainda entre o que se toma ou não como um fim em si. A contradição se mostra quando pensamos pelo que lutamos exatamente, e eu digo que lutamos por uma sociedade que precisa ser construída de baixo para cima, pela próprias mãos daqueles que são agora excluídos e oprimidos. Ou será isso, ou não será a sociedade pela qual lutamos. Nenhum processo eleitoral pode nos aproximar de tal sociedade, ele é feito para nos afastar dela, para canalizar a real participação política para o âmbito de mais uma mercadoria negociável. E não venham dizer que aqueles que lutam diretamente no dia a dia para a construção desta nova sociedade estão ajudando a direita porque deixam de apertar botões. Quem contribui com a direita é quem se aproxima dela até que a diferença entre eles seja menor que qualquer quantidade dada e não possa mais ser notada apenas para disputar cargos em um sistema desigual e corrompido.
Como, agora, estes que militam em função desta disputa tosca podem simplesmente nos estender as mãos e dizer que estamos do mesmo lado? Será que nós, os radicais, os malditos, aqueles que “não são verdadeiros manifestantes”, os baderneiros, os vândalos, aquele que precisaram ser encarcerados, banidos, criminalizados, isolados… será que nós, depois disso tudo, ainda serviríamos calados ao espetáculo eleitoral, tomando como legítima esta falsa democracia?!"

Camila Jourdan - Facebook