06 setembro 2014

"Quando o menino demonstra o desejo de salvar uma criança que eles encontram pelo caminho, o pai repete essa fala de que o ideal seria X, mas que eles agirão da forma Y, pois não têm opção. A repetição do argumento "não há outra opção" diante de atitudes que o próprio sujeito considera erradas ou antiéticas é a forma como o pai aplica a lógica do "estado de exceção" à sua vida prática. Ele sempre reconhece que suas atitudes não são as ideais, mas argumenta que só poderia agir corretamente se as condições fossem ideais. Como elas não são e provavelmente jamais serão uma vez que a crise que eles vivem é permanente e sem perspectiva de melhora, então o comportamento de "exceção" transforma-se em regra e molda sua existência. Como disse Cazdyn, "a crise pressupõe que talvez possamos suspender nossas regras e parâmetros éticos usuais porque precisamos ?agir imediatamente'", ainda que esse "imediatamente" se prolongue indefinidamente em um mundo pautado por crises que se intercalam."

Juliana Cunha - fonte: aqui