06 setembro 2014

À espera dos bárbaros - Konstantinos Kaváfis

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado? 
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje 
Que leis hão de fazer os senadores? 
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo 
e de coroa solene se assentou 
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje. 
O nosso imperador conta saudar 
o chefe deles. Tem ponto para dar-lhe 
um pergaminho no qual estão escritos 
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores 
usam togas de púrpura, bordadas, 
e pulseiras com grandes ametistas 
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? 
Por que hoje empunham bastões tão preciosos, 
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje, 
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores 
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje 
e aborrecem arengas, eloquencias.
Por que subitamente esta inquietude? 
(Que seriedade nas fisionomias!) 
Por que tão rápido as ruas se esvaziam 
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm 
e gente recém-chegada das fronteiras 
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós? 
Ah! eles eram uma solução.

Konstantinos Kaváfis (Alexandria, 29 de abril de 1863 - Alexandria, 29 de abril de 1933) - Considerado um dos maiores poetas gregos modernos. Não chegou a publicar nenhum livro, apenas poemas em folhetins e jornais. Após sua morte, foi publicado um livro com os 154 poemas que escreveu. Todos os poemas foram traduzidos por José Paulo Paes.