19 setembro 2014

"O tom que vejo sendo adotado pela militância dilmista nas redes, tal como se a defesa da candidatura fosse um 'dever com o povo pobre', é péssimo e ilustra bem a interiorização do lulismo pelo petismo. Não há mais qualquer veleidade de promover a auto-organização de trabalhadores, pobres e favelados, de agir enquanto governo no sentido de criar políticas de mobilização autônoma da sociedade, para além das próprias diretivas que caracterizam a auto-imagem do partido, a sua representação enquanto partido dos que não podem se organizar -- e que, entretanto, doze anos depois, já romperam essa 'condição' que, de fato, nunca existiu, pois o PT sempre foi um organização dos trabalhadores, mas também dos pobres. Há apenas a enunciação desse 'dever', uma tentativa de vencer não pela radicalização à esquerda (que, de resto, se resume a afirmar e desafirmar pautas -- como a criminalização da homofobia -- até não se saber mais muito bem a posição do partido -- justamente aquilo que se ironiza em Marina, com correção, aliás -- ou a fazer de propostas que circularam nos governos petistas, com aval e aprovação de ninguém menos que Lula, uma hipócrita anunciação do fim dos tempos), mas pela disseminação de uma expectativa difusa de culpa diante da possibilidade da derrota do PT. O xadrez que o partido joga lembra aquela partida jogada por Antonius Block, personagem d''O sétimo selo' (1957) de Ingmar Bergman. Uma partida contra a (sua própria) morte. Uma partida cujo único horizonte é a derrota, se não eleitoral (pois por mais equivocada que seja a campanha do ponto de vista político e ético, nada a impede de ser eleitoralmente eficaz), certamente política."

Silvio Pedrosa - Facebook