03 setembro 2014



O sociólogo José de Souza Martins escreveu em 2005: "Foi a facção religiosa que deu dimensão nacional ao PT e foi ela que forneceu ao partido algo que os outros dois grupos – o sindical e o esquerdista – não tinham a menor condição de oferecer: a mística política de fundo religioso, o sistema conceitual que baliza os discursos do partido, o didatismo maniqueísta que demarcou a fala presidencial do Dia da Pátria [em 2005], o Brasil dividido em duas categorias, as pessoas de bem e as mal-intencionadas, as que são pelo governo e as que são contra o governo. Isso é bíblico, mas não é dialético nem é político.


O moralismo de fundo religioso tem um projeto político para o Brasil, expresso na fala de um dos organizadores da Marcha [dos Excluídos, protesto organizado pela Igreja Católica]: “O que todos os movimentos sociais estão dizendo é que esse sistema de representação política baseado nos partidos não serve.” Ao impugnar o sistema partidário e de representação política, a democracia, estão sugerindo a alternativa da democracia direta, de massa e de rua, mediante pressão, o governante fantoche. Lula lá já é Lula só, assediado para se tornar instrumento de uma das três facções do PT que disputam a alma de Luiz Inácio. Essa é a originária mãe da crise. É aí que começa a nascer o lulismo, o esvaziamento do PT por seu maior líder, em cuja popularidade se proclama a desnecessidade do partido."


via Andre Vallias