07 setembro 2014


"Fala-se muito em "não julgar os outros pelas aparências", mas o que diabos isso significa exatamente? Talvez façamos mau uso do conselho, e na verdade o que se diz é pra não acreditarmos inteiramente nas primeiras impressões que temos em relação a qualquer coisa. Nesse caso, tudo bem. Por outro lado, se o conselho quer dizer que devemos ser indiferentes ao fato de uma pessoa usar pochete de crochê, pintar o cabelo de roxo ou andar por aí com o carro da Mary Kay, então posso garantir a vocês que este conselho é uma tolice.


Primeiro porque, digam o que for, jamais seremos indiferentes às aparências, e isso apenas porque é impossível que seja de outro modo. Se temos a capacidade de julgar a aparência dos outros de modo mais inteligente, mais livre de preconceitos; ou se omitimos lá no fundo do coração o nosso julgamento; ou finalmente se fazemos merda com as conclusões que tiramos dele, bom, aí é outra história, mas jamais, em nenhuma hipótese, deixamos de julgar. Isso posso garantir pra vocês, afinal foram anos e anos pra chegar a tal conclusão. De maneira que o conselho poderia ser um pouco diferente: julguem à vontade a aparência dos outros, mas se for possível fiquem com o bico calado depois, ou então arrumem dinheiro pra pagar um bom psicólogo, pois ele terá disposição pra ouvir tudo que você tem a dizer. Um jeito mais barato é simplesmente convidar os amigos pra tomar cerveja no bar e tal. Bom, divago.

Outra coisa é que se aparecemos aos outros é porque, no sentido mais estrito, queremos ser julgados por isso, ora essa. Por exemplo, se uma pessoa faz uma tatuagem que começa no braço, dá duas voltas no pescoço e termina no tornozelo, o que ela mais quer é ser notada e, portanto, julgada. A graça é um pouco essa. Mais uma vez, esperto é quem sabe mais ou menos dominar as imagens, controlando da melhor maneira os efeitos que ela produz, mas sempre terá um vizinho pra te olhar torto no elevador, caso você desça com o lixo às 2h da tarde vestido de pijama, como quem diz "esse aí atrasa o condomínio todo mês", afinal, como todos vocês já sabem, a vida não é um poema do Mallarmé."

Victor Rosa