31 agosto 2014

Melhores momentos de um status do poeta e tradutor Ricardo Domeneck - Facebook

"Talvez soe a demagogia a alguns, mas trata-se de uma pergunta sincera, que venho me fazendo: você estaria disposto a apoiar uma candidata em detrimento dos direitos de sua "tribo", se fosse confirmada, na medida do possível, que sua presidência significaria uma melhora verdadeira nas condições de existência de outras "tribos", especialmente das TRIBOS? Para mim, em minha mente, está se tornando uma pergunta política central."

Ricardo Domeneck

 Trata-se, por outras palavras, de determinar quais são, dentre as diferenças positivas inscritas nos povos brasileiros — as múltiplas tribos patentes ou latentes homogeneizadas pela idéia de uma Nação Brasileira —, aquelas diferenças que se acham mais ameaçadas de destruição pela continuidade do atual "projeto de poder".


Todo mundo traz para seu próprio discurso a sua própria religião. As mais perigosas são as religiões que não se reconhecem como tal. Minha religião é que todo gesto, movimento, decisão ou posição que multiplica os possíveis e aumenta a quantidade e a qualidade de diferenças positivas (diferenças irredutíveis a desigualdades) no mundo deve ser saudado.(...) A questão colocada pelo Ricardo Domeneck é propriamente política, a saber, que nem todas as diferenças se colocam no horizonte imediato como ameaçadas no mesmo grau, ou, por outra, que as possibilidades de extermínio de certas diferenças irrecuperáveis são um fator que hierarquizaria prioridades e autorizaria concessões estratégicas.

"Note ainda que mais importante ou mais urgente se colocam como critérios que intervêm apenas em seguida à tomada de posição ética sobre o valor primacial ("religioso" ou "ontológico") da diferença. E mais uma vez, isso implica recusar a manobra terrorista que reduz toda diferença a uma desigualdade."

Mas achei muito importante a distinção que fez o Ricardo Domeneck entre tribos e TRIBOS. Não se trata de uma distinção entre sentido figurativo e literal, mas de algo mais sério. A destruição das TRIBOS é o que "nos" torna pouco a pouco indiferentes à destruição das tribos. "Primeiros eles, depois nós (ou vocês)". Em todos os sentidos.

Eduardo Viveiros de Castro

 “Com toda a coação e a libidinagem da gente branca, não foi, no entanto, destruído o que melhor restava no natural das Américas. A sua cultura resistiu no fundo das florestas, como na recusa a toda força escravizante.” No fundo das florestas assim como na recusa a força escravizante: nunca um sem o outro, pois “Toda a literatura, mesmo a missionária, que no século XVI encheu de novidade o mundo, aqui permaneceu para escândalo do mundo vestido e algemado que nos traziam”. Sem o contato direto com os índios não seria (e não será) possível “virar índio”. É por isso que “Só o selvagem nos salvará. Essa força profunda que sentimos e que cumpre conservar nos veio dele.”

Alexandre Nodari