15 agosto 2014


"Hoje Estela de Carlotto, Abuela de Plaza de Mayo, encontrou seu neto Guido, roubado na prisão, filho de sua filha Laura, assassinada pela ditadura militar argentina em 1979.


Fico pensando nas diferenças entre Brasil e Argentina com relação à memória desse período. Lá, o número de mortos e desaparecidos é infinitamente maior do que aqui. Isso não quer dizer que tenha sido melhor ou pior, pois sabemos hoje que as ditaduras no continente eram ações coordenadas.

Mas é certo que essa disparidade faz com que a memória dessas pessoas seja muito mais viva lá do que aqui. Cada argentino conhece alguém que tem um parente morto ou desaparecido, conhece seus dramas, as buscas, as lutas que se originaram daí. Aqui, os familiares são menos numerosos e tidos como loucos por muita gente. Quando suas histórias aparecem na mídia ou no cinema, ganham ares de novela ruim. 

Verdade que a situação tem mudado nos últimos anos, mas nada parecido com o que a Argentina tem feito. Falta muito para que a sociedade acolha esse momento como parte de nossa história coletiva. Para que sobressaiam os traços que nos identificam àquela geração, tornando-nos menos parte daqueles grupos que preferiram calar e fingir que não estavam vendo o que se passava. Arrisco dizer, inclusive, que a repressão pesada aos movimentos de junho pode ter a ver com a disputa dessa memória."

Tatiana Roque