23 agosto 2014

"Costuma-se atribuir a James Hunter a precisa identificação e difusão do termo "guerras culturais" para se referir ao processo pelo qual temas como o direito dos homessexuais, a legalização do aborto, o controle de armas e a legalização das drogas passaram a ter proeminência no debate político, opondo "conservadores" a "progressistas". A melhor explicação para o fenômeno, no entanto, segue sendo a de George Lakoff em "Moral Politics". Lakoff nota que o novo antagonismo opõe visões de mundo conflitantes baseadas em diferentes noções da autoridade moral. De um lado, teríamos uma visão punitiva e disciplinar e, de outro, uma visão moral generosa e compreensiva. Apenas levando em conta esses dois sistemas morais entederíamos, por exemplo, porque tanto conservadores, como progressistas acusam um ao outro de incoerência em relação a proteção à vida pelas posições que assumem com respeito ao aborto e à pena capital. Pois não se trata apenas de um entendimento diferente sobre qual vida deve ser protegida, mas, fundamentalmente, de como se trata o erro: se a mulher que fez sexo fora do casamento deve ser punida com a gravidez ou se deve ter as circunstâncias da sua vida levadas em conta; se o criminoso deve ser punido com a pena capital ou se deve ser alvo de um processo de reabilitação."

 "o que eu acho que aconteceu é que as guerras culturais reconfiguraram o debate político e a esquerda progressista não entendeu que o campo de batalha mudou e, por isso, terminou aderindo a premissas do campo conservador. Não é apenas que o campo conservador está avançando, o campo conservador redefiniu as regras do jogo ao moralizar a política. E não se responde a isso com o velho discurso esquerdista da justiça social -- será preciso, penso eu, que nós também respondamos moralmente ao desafio -- só que ao invés de insistir na abordagem punitiva e disciplinar, criticar o seu caráter impiedoso, insensível e desumano."

 Pablo Ortellado - facebook