01 agosto 2014

"Confesso aos amigos que me assombro, e temo, quando vejo qualquer pessoa - de qualquer corrente ideológica, diga-se - abraçar bandeiras políticas com o fervor religioso dos peregrinos da fé, ardendo na fogueira das verdades inquestionáveis e portando o olhar em brasa dos que se acham historicamente destinados a saber o que é melhor para a humanidade e para o mundo. Eu ainda tenho que comer muito feijão com arroz, de todo modo acho que o ponto de virada fundamental na minha vida (e terapia ajuda, mapa astral ajuda, morte de gente querida ajuda, escrever ajuda, cerveja de fim de tarde ajuda, samba ajuda, apostem aí) foi quando desconstruí certezas por causa de uma pancada forte - processo doloroso que alguns amigos do facebook acompanharam de perto e viveram intensamente também - , passei a desconfiar de verdades que eu tinha erguido como bandeiras, abri mão de convicções que pautaram boa parte da minha vida, e comecei a conviver e escutar pessoas com perspectivas de mundo radicalmente diferentes das minhas. Ainda estou passando por esse processo de desconstrução das minhas convicções. A boa notícia é que a fase do luto, aquela em que ver as certezas indo para o ralo machucam, passou. A fase agora é da alegria, do exercício da desimportância e da curiosidade de saber exercitar essas diferenças de forma tranquila. Aí você descobre que tem muita gente boa que, apenas e tão somente, observa o mundo de mirantes diferentes dos seus. E você não é melhor que ninguém e nem é ungido por deuses ou demônios por causa disso. Recebam meu abraço fraterno e relevem a confissão."

Luis Antonio Simas