07 agosto 2014

"A nossa sociedade patriarcal precisa requentar diariamente o mito do feminino sombrio, da mulher malévola, vingativa, o feminino perverso, ressentido com a afirmação do “poder falocêntrico” (supostamente o monopólio de exercício do poder legítimo), que não se submete a este, e, com isso, sendo incapaz de exercer este poder como o homem – e é isso que o mito pressupõe e reafirma – ressurge como aquela vilã destrutiva, traidora, histérica, descontrolada, sempre mais ou menos insana. O que precisa ser ainda dito é que este não é o discurso repetido apenas pela industria cultural espetacular em seus filmes, livros, novelas, mini-séries, são séculos e séculos de ideologia assimilada em nosso dia a dia por aqueles que condenam até mesmo, antes e de modo mais eficaz, que os tribunais. Ideologia repetida por aqueles que acreditam realmente que as mulheres, em máximo grau, são as responsáveis pelas consequências destrutivas das escolhas nas vida dos homens; por aqueles que até acreditam no direito à resistência das massas à violência de Estado, mas chegam ao ponto de equacionar a resistência feminista às mais terríveis violências com condutas fascistas. É que a opressão que não sentem, e da qual se privilegiam, torna-se convenientemente invisível. Por tudo aquilo que eu não consegui dizer quando deveria ser dito, deixo uma homenagem à Lua Negra, Lilith, e ao que ela significa de libertador para as mulheres."

Camila Jourdan - Facebook