12 julho 2014

Há quem fique cheio de dedos para chamar as coisas pelo nome, erguendo diversos obstáculos à caracterização do que acontece atualmente em vários estados do Brasil (aparentemente de forma mais numerosa e contundente no Rio de Janeiro) como 'ditadura'. Na maior parte dos casos se discute a natureza de ambos os regimes, democracia e ditadura, em abstrato, ou se aferra às características históricas da ditadura militar brasileira para se rechaçar o nome. O primeiro procedimento de negação não funciona, pois se ancora na identificação de características normativas que qualquer um menos dado ao cinismo verifica serem tomadas como letra morta na prática. O segundo desconhece, desde o início, que a comparação histórica é sempre uma comparação entre incomparáveis (em ambos os casos, pode ocorrer que a negação venha acompanhada da denúncia de julgamentos de exceção no STF e apenas lá - com direito ao devido processo penal, quase uma década de intervalo entre o crime e o julgamento, existência de embargos, etc.). A 'ditadura' de que se fala é o aparelho de controle, uma máquina flexível capaz de estratificar ad hoc o próprio regime político em que se vive, suspendendo direitos aqui e ali, enquanto os mantém vigentes alhures. Desde junho de 2013, a reação dos poderes constituídos foi a de estender suas malhas das favelas e periferias, onde ela se configura como biopoder escravocrata e assassino, às ruas onde se exerce o direito ao dissenso. A história da liberdade é sempre uma história de libertação e começa chamando as coisas pelo nome. Que comecemos a nos libertar, então.

via: Silvio Pedrosa - facebook