13 julho 2014

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos
pune.
Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando
contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os
brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade
para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só
depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção.
Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a
sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer.
Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que
transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de
madeiras.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte
vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão.
Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não
compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido
de oportunidades.
Um artista a serviço da comunidade, do país.
Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no
colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros
e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior.
Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”.
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
É TUDO NOSSO!

VAZ, Sérgio. Manifesto da Antropofagia Periférica, 2007. Disponível em
www.colecionadordepedras.blogspot.com


retirado da dissertação aqui