28 julho 2014

"As esquerdas brasileiras, quase como um todo, crêem na superstição de que a sociedade é conservadora, logo, não seria possível ousar em matéria de política. Ou ousar de maneira estéril e arrogante, sem se preocupar em se fazer compreender. Às isso parte de um engano de avaliação, mas chega a ser um wishful thinking perverso: não esqueçamos que parte dessas mesmas esquerdas é moralmente conservadora, inclusive algumas alas suas de caráter laico. Hoje, por exemplo, é a candidatura de extrema-direita do Pastor Everaldo que está ditando o discurso das eleições nacionais: mas Everaldo só existe por conta das concessões feitas ao seu partido e à dita "bancada evangélica". E a resposta para isso? Os principais candidatos afinam mais ainda seu discurso com uma agenda moralista, que não é dos "evangélicos", mas da direita que mascara sua política conservadora na embalagem do discurso religioso-moral-evangélico. Sim, essa mesma direita é o plano Y de sobrevivência do capital, mas é um plano. Por outro lado, a esquerda radical não parece disposta a bater chapa a sério contra isso e, junta, não terá os votos do Pastor. Ainda porque suas lideranças mais carismáticas não arriscam seus mandatos parlamentares e, também, porque não constrói uma política concreta junto à multidão. Como se as demandas libertárias não surgissem aí espontaneamente e não fosse o Estado o responsável por vetar, ou protelar, certas legalizações. Essa ilusão de que é a sociedade, e não o Estado -- seus burocratas e colaboradores --, o ser próprio do conservadorismo ainda nos causará grande prejuízo."

Hugo Albuquerque