28 julho 2014


"A sempre saudável irreverência de Rubem Alves e os "sacodes" que dava na intelectualidade de relógio-ponto:

"Se a gente pedir para os moradores da universidade fazerem um trabalho sobre uma coisa complicada, sobre a qual existe uma bibliografia, tudo bem; eles fazem. Mas se a gente pedir para que façam um trabalho sobre aquilo que estão vendo, eles ficam paralisados. Para ver, eles precisam de uma citação."
Assim foi com muitos PhDs-em-si-mesmos a partir de junho do ano passado. Entrincheirados em seus cômodos sofás e dogmáticas certezas, deixavam-se guiar pela impren$a, "não viam e não gostavam". E disparavam flatulências pseudo-eruditas para condenar o que não conheciam nem compreendiam (e até hoje não conhecem nem compreendem), tentando talvez se defender de suas próprias inseguranças.
Outros até compareciam às manifestações, mas talvez atordoados com a maravilhosa, potente e contraditória explosão [no sentido figurado, tá, p2?...] da multiplicidade de singularidades em movimento, não conseguiam se abrir para o novo que a todos surpreendia. Davam seu tradicional rolê de 15 minutos só para serem vistos, e refugiavam-se na mesa de bar mais próxima, empunhando amareladas (no duplo sentido) notas de pé de página para implicar com tudo.
Alguns, devastados pelo ressentimento, chegaram "sovieticamente" a acusar de "louco" quem ousava olhar para tudo aquilo com olhos de primeira vez. Com isso só conseguiam denunciar sua própria deslealdade e - pobre a rima porque pobre o motivo - sua própria pequenez.
Mas o pior mesmo é o estrago que uns e outros irresponsavelmente causaram e ainda causam na percepção e na compreensão dos seus incautos pupilos. Tristes "saberes" que esterilizam, embotam e paralisam, ao invés de fecundar, inspirar e co-mover..."


Adriano Pilatti