26 julho 2014


"Ariano Suassuna era um tradicionalista, reacionário no sentido estritamente etimológico da palavra (ou seja, propugnava mesmo que a saída era que se girasse para trás a roda da História) e combateu durante anos o mangue beat. Os amigos pernambucanos da minha geração se lembram: ele se recusava a dizer "Chico Science". Pra ele era "Chico Ciência". E acusava o mangue beat de desnacionalizar a música nordestina e tudo o mais. 

Até que naquele fatídico 02 de fevereiro de 1997, Chico bateu o carro da irmã no caminho que ele fazia tantas vezes, entre o Recife e Olinda. Foi o domingo em que todas as nações do maracatu desfilaram em silêncio. E lá estava Ariano, carregando o caixão de Chico Science, chorando copiosamente, desesperado. 

Essa imagem, de Ariano Suassuna chorando enlouquecido enquanto carregava o caixão do "Chico Ciência" que ele tanto havia combatido, é para mim uma das mais fortes da cultura brasileira. E é a imagem de Ariano que fica pra mim."


Idelber Avelar - Facebook