09 março 2017

"O feminismo é multiespecífico!
Hoje eu queria lembrar que, como nos ensina Preciado, o feminismo não é um humanismo, mas um animalismo; ou, por outra, que "o animalismo é um feminismo dilatado e não antropocêntrico e que "não foram o motor a vapor, a imprensa ou a guilhotina as primeiras máquinas da Revolução Industrial, mas sim o escravo trabalhador da lavoura, a trabalhadora do sexo e reprodutora, e os animais. As primeiras máquinas da Revolução Industrial foram máquinas vivas."
Gostaria também de lembrar das autoras ecofeministas, em especial Val Plumwood, que nos explica como o discurso do mestre no ocidente é tradicionalmente aquele do "não marcado diante do outro marcado" e que "o dualismo abrangente da cultura ocidental opõe a esfera da razão (mente, espírito) à da natureza como uma esfera de múltiplas exclusões contendo mulheres, escravos, povos indígenas, não-brancos e animais (e, claro, muito mais, incluindo a vida biológica não-humana, a necessidade e o corpo."
O trabalho das fêmeas (e daqueles que ocupam posições marcadas) é invisibilizado, seus corpos violentados todos os dias. Entre a criminalização do direito ao aborto, o destino das vacas leiteiras, das galinhas poedeiras e das éguas mantidas grávidas para extração de hormônio (que beneficia fêmeas humanas, mas primeiramente dá muito lucro às farmacêuticas), só para ficar em algumas poucas práticas de tortura da vida feminina, há um laço. Entre o apagamento do trabalho doméstico feminino e o trabalho não reconhecido de animais em fazendas, laboratórios e outros, há conexões. Deve haver solidariedade entre nós.
Termino retornando a Paul B. Preciado, feminista que nasceu mulher e tornou-se homem (mas nunca aderiu ao lugar não marcado!):
"A mudança necessária é tão profunda que se costuma dizer que ela é impossível. Tão profunda que se costuma dizer que ela é inimaginável. Mas o impossível está por vir. E o inimaginável nos é devido. O que era o mais impossível e inimaginável, a escravidão ou o fim da escravidão? O tempo de animalismo é o do impossível e o do inimaginável. Este é o nosso tempo: o único que nos resta."

Juliana Fausto