15 dezembro 2016

"Vou colar a frase da primeira imagem abaixo novamente, só por via das dúvidas:
"Não estava programado mas foi um gesto de indignação das pessoas. Fiesp representa o que não presta no Brasil. O dano na fachada da Fiesp é muito pouco perto do dano que a Fiesp está causando há muito tempo ao povo do Brasil." ¹
Agora, esta é a frase do PSOL Ceará, que inclusive corrobora com muito do que eu tenho escutado de organizações partidárias:
"Usar as manifestações de massas como escudo ou conduzi-las para confrontos com o aparelho repressivo não planejados e acordados com aqueles que democraticamente construíram os protesto não passa de oportunismo, da mesma família do aparelhamento partidário." ²
Se a ação direta "não foi programada", e foi compreendida como "gesto de indignação", então por que essa preocupação em repudiar "confrontos com o aparelho repressivo não planejados e acordados"? Oras, do que se trata, então, esta flagrante contradição entre discursos?
Tendo visto o vídeo da ação direta contra a FIESP, pode-se perceber que não foram "mascarados" nem gente vestida de preto quem promoveu a ação. Foi gente "de vermelho". Isto é ruim? Claro que não. A FIESP merecia muito mais. Se eu tivesse como opinar, sugeriria que se montasse uma milícia popular, retirasse todas as pessoas do prédio e implodiria aquela merda. Pelo contrário, portanto: achei a ação até pouco. Quisera eu que a galera "de vermelho" (na qual me incluo, enquanto comunista) tivesse mais coragem de fazer mais ação direta.
Mas por que, então, essa contradição discursiva? Por que raios a militância partidária tem estado tão preocupada em apontar o dedo para a ação direta anarquista, enquanto justifica a ação direta não-planejada pela militância partidária ou de movimentos com os quais ela fecha?
Especulo alguns motivos:
1. Porque a militância partidária e seus satélites querem estar bem na foto pra grande mídia. E toda vez que nega isto a gente é obrigada a lembrar que Boulos e Duvivier são colunistas da Folha. A grande mídia é a vanguarda da criminalização da ação direta, e parte da população - em especial classes média e alta - tem visto com maus olhos os atos de depredação de objetos. Aquela militância, na dificuldade de se conectar com grande parte da classe trabalhadora (parte da qual inclusive tem sido conquistada pela direita e extrema-direita), portanto, passa a entender que é necessário ganhar a classe média, mais próxima e querida à institucionalidade burguesa, para então deter maior poder sobre a classe trabalhadora;
2. Porque nós, comunistas, temos um longo histórico de perda de controle para ações anarquistas. Kronstadt foi exemplo disto. E qual foi a nossa resposta? O massacre. Situações assim têm se repetido há décadas. Uma companheira anarquista disse, estes dias, com razão, sobre este tipo de comportamento: "essa gente odeia o que não consegue controlar". A partir de certo ponto, quando se perde o controle - mesmo de ações que tenham pouco de revolucionário como atos de rua -, boa parte dos setores comunistas passa a enxergar anarquistas como inimigos. Aqueles e aquelas que estiveram lutando ao nosso lado sempre que houve uma situação revolucionária. Nos dias de hoje isto se reflete em uma docilidade enorme perante a polícia do Estado, mas também em um policiamento violento contra ações diretas anarquistas. Quando a ação direta é "do nosso lado", então beleza, tá tudo certo, o Capital é de fato o inimigo afinal. Mas quando a ação direta não está sendo provocada pelas nossas fileiras, nossa resposta é a criminalização.
Não se trata, portanto, de uma separação entre "atos coordenados" e "atos aleatórios", mas sim de uma separação entre "atos nossos" e "atos dos outros". É aqui que mora o perigo para a esquerda. E é, por isto mesmo, que a galera que toma este segundo discurso passa a se comportar como seita - portanto "sectários" (termo que adoram empregar contra anarquistas).
Eu continuo sendo comunista. Subscrevo à tese de valor de Marx, bem como me faz mais sentido enxergar a história por uma ótica materialista do que idealista. E também acho que o Estado pode ser uma ferramenta útil para uma transição em direção ao Comunismo (sociedade sem classes nem Estado), caso o processo seja revolucionário. Mas, olha, cada vez tenho achado mais escrota essa militância comunista anti-anarquista. Porra, quem são nossos inimigos, caralho? A porra da FIESP e a porra do BACEN, ou as anarquistas?
Mas que merda. Melhorem aí dessa idiotice. E minha total solidariedade a anarquistas. Nesta treta eu fecho com vocês anarquistas."

Diogo Baeder