16 setembro 2016

“Quando eu ouço o que chamamos de música, tenho a impressão de que alguém está falando, e falando sobre seus sentimentos ou sobre suas ideias de relacionamento. Mas, quando eu ouço o som do tráfego [...] tenho a sensação de que um som está em atividade e eu adoro a atividade do som. O que ele faz é ficar mais alto e mais baixo, mais agudo e mais grave, mais longo e mais breve. Todas essas coisas que ele faz me satisfazem plenamente; eu não necessito de que falem comigo.”
[Porra, John Cage!]
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Do mural da Isabella Bottino:
"Eu vi um tanque parado no sinal vermelho: eles estavam dando um golpe mas obedeciam às regras do trânsito." (Márcio Moreira Alves, sobre o Golpe de 64)
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E os dias não estão suficientemente plenos
E as noites não estão suficientemente plenas
E a vida passa como passa uma ratazana pelo campo
Sem agitar a relva.
[Porra, Ezra Pound!]
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Não há um tempo único: são muitas as fitas
que deslizam paralelas
muitas vezes em sentido contrário e raramente
se entrecruzam. É quando se revela
a verdade pura que, descoberta,
é rapidamente suprimida por quem vigia
as engrenagens e os desvios. E se recai
depois no tempo único. Mas naquele átimo
os poucos viventes puderam reconhecer-se
para dizerem-se adeus, não até logo.
[Porra, Eugenio Montale!]
*
ESTUDO SOBRE A VULNERABILIDADE
seu rosto se afastando do meu
para evitar gozar
8 morangos numa tigela azul molhada
papai segurando as calças
durante a revista na fronteira
uma mulher recém-casada ajeitando o penteado
com pinos de granada
uma parede sem pregos
para os fantasmas passarem
[Porra, Solmaz Sharif! em tradução de Luiza Leite e do mural de Luiza Leite]
*
"Acabou chorare. Começou resistire. Partiu desobedecere."
[Porra, Ricardo Aleixo!]

via Carlistos Azevedo