12 setembro 2014

A galeria, muito vazia.

A galeria, muito vazia. Um silêncio escuro, e tantas telas para nada. Dois guardas desconfiados percebendo (ou tentando) cada movimento dado. Às vezes, seguiam, se ouvissem algum barulho. Era sol lá fora e, dentro, um breu com as tábuas corridas escuras em brilho, paredes verde-musgo, lâmpadas impotentes. Um catálogo com preços para obras. Um caderno, na sala seguinte, para assinaturas dos visitantes em outra exposição. No caderno, um poema em prosa, uma declaração de amor de um senhor que ia saindo indefinível de perto das linhas que acabava de deixar. Aquela escuridão era um frio, muito mais que o silêncio. Um ambiente tão grande mas que não deixava ecoar nenhum barulho, nem dos pés. Como seria a vida ali dentro, por turnos? As horas ali dentro? Só os guardam sabiam. - Mas eles riam.

Nos poucos minutos despendidos ali, no isolamento do universo, na supressão do mundo, eu senti um verdadeiro desolamento imposto, um caminho único, sem saída, para estar consigo e pegar em sua própria mão para descer pelo elevador e procurar um bar. Descemos. E, ainda assim, nenhum gole foi tão amargo que salvasse a consciência de algum desastre; e nenhum gole foi tão perverso a ponto de causar enjôo, tonteiras e risadarias sem propósito. Tudo virou um impacto desolado e sem sentido - era aquela galeria por dentro, cheia de seus quadros e escuridão e frio silencioso, aquele ambiente inalterável e triste, sem som, sem eco, verde-musgo - com seus vários guardas que riam, riam sem parar, riam e continuam rindo na minha cara.