Notas da insônia:
Num filme de Godard ouvi pela primeira vez a frase: "O espelho deveria refletir mais antes de nos devolver a nossa face", que anos depois descobri ser uma citação de Jean Cocteau, o mesmo que disse (mas isso aprendi com Laura Taves): "Sou um fogo de palha que dura".
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Lendo na madrugada o poema “O Cão sem plumas”, fiquei lembrando de uma aluna do Complexo do Alemão que, numa redação/poema do nosso curso, escreveu: "O rio Capibaribe passa por Toritama, Limoeiro, Recife, Paudalho e João Cabral".
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- Este é o Clube dos Nostálgicos?
- Sim, mas já não é mais como antes.
[Meme achado na página da Mercedes Roffé]
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Um jornalista perguntou a Man Ray se na exposição que ele estava inaugurando aquele mesmo dia havia alguma pintura recente. E Man Ray, furioso, respondeu que nunca em sua vida havia pintado um quadro recente.
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O pintor francês Pierre Bonnard (1867/1947) foi detido aos 68 anos em um museu retocando um detalhe que o incomodava numa tela de sua juventude.
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Lembrei da menininha na creche, filha de uma amiga, que dizia: "A diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a diferença entre um relâmpago e um vagalume." E de seu amigo imaginário, o gato Twain, que lhe teria, segundo ela, respondido: "Eu gosto de vagalumes."
Respondendo a uma enquete sobre "Como melhorar a literatura russa", Anton Tchekov (foto) escreveu:
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Quando já o sono parecia chegar, esbarrei nessa postagem da página da Luisa Duarte:
“Sempre gostei de bagunça. Não de ordem nem desordem. Bagunça. O que tenho a mão vou mexendo até perder, prá depois achar de novo. Achando o que perdi acho o novo de novo, reencontro o novo no velho – é como a luz, a velha luz, descansada e sempre nova de novo.” TUNGA
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"Não existe chocolate ruim, você é que tem pouco problema", filosofou no telefone a Patrícia Rebello, com sabedoria e Jack Daniel's.
O LAVRADOR, ABANDONANDO A ENXADA
1, O lavrador, abandonando a enxada,
Contempla o voo de um corvo
E diz: na voz do corvo ressoa
A Guerra de Troia,
A ira de Aquiles,
O pranto de Hécuba,
Enquanto voa
Sobre nossas cabeças.
2. Na mesa empoeirada
O acaso criou na poeira
Seus estranhos desenhos.
Diz um menino curioso:
Essa poeira talvez é Moscou
E essa talvez é Chicago ou Pequim.
Porra, Khlébnikov!
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A HISTÓRIA
Uma vez li uma história
sobre um gafanhoto com um dia de vida,
um aventureiro verde que foi engolido
no escuro por um morcego.
Logo a seguir a isto a velha e sábia coruja
apresentou um breve discurso de consolação:
"Também os morcegos têm direito à vida,
e ainda há muitos gafanhotos por aí."
Logo a seguir a isto veio
o fim: uma página em branco.
Passaram-se desde então quarenta anos.
Debruçado ainda sobre essa página em branco
não me sinto com forças
para fechar o livro.
Porra, Dan Pagis!
via: Carlitos Azevedo